quinta-feira, 28 de abril de 2011

Chávez trai solidariedade




Por Bruno Carvalho

De todos os autarcas eleitos, na Colômbia, pela União Patriótica, só dois sobreviveram. Milhares de militantes, de candidatos e eleitos foram assassinados de norte a sul do país pelo Estado e pelos paramilitares.

O terror que se abateu sobre a candidatura da esperança não deixou muitas alternativas. Muitos juntaram-se às FARC, outros refugiaram-se no estrangeiro. Um dos autarcas sobreviventes partiu para a Suécia com o acordo do Partido Comunista Colombiano e da União Patriótica. Em 1994, Joaquín Pérez Becerra deixava para trás Corinto, localidade da região do Valle del Cauca.

Na Suécia, dedicou-se a organizar a solidariedade com a luta do povo colombiano. Criou a Agência de Notícias Nova Colômbia (ANNCOL) e chegou a promover junto do Estado sueco conversações com as FARC por uma solução política e negociada para o conflito. O trabalho de Joaquín Pérez Becerra pela paz e contra o terrorismo de Estado é amplamente conhecido em toda a Europa por quem acompanha de perto a situação política da Colômbia. Já com a nacionalidade sueca, nunca teve quaisquer problemas com a polícia naquele país da Escandinávia.

Daí a surpresa quando se soube que Joaquín Pérez Becerra havia sido detido no Aeroporto Simón Bolívar, em Caracas. Sob a desculpa de que estava nas listas de procurados pela Interpol como membro das FARC, a polícia venezuelana deteve-o. O governo venezuelano emitiu rapidamente um comunicado em que destacava que a detenção de Joaquín era um exemplo da sua luta contra o "terrorismo e o narcotráfico". A reacção do Partido Comunista da Venezuela, do Movimento Continental Bolivariano, do sindicato Unete e de muitas organizações populares foi clara. Deter e extraditar Joaquín Pérez Becerra para a Colômbia seria uma traição à solidariedade internacionalista e até à legislação uma vez que o jornalista colombiano tem nacionalidade sueca.

Em tempo recorde, o governo de Hugo Chávez autorizou a extradição. Nas televisões colombianas, o presidente Juan Manuel Santos destacou as excelentes relações com o homólogo venezuelano e a pronta resolução do caso Pérez Becerra. Mas não é a primeira vez que o faz. Nos últimos anos, vários membros das FARC foram extraditados para a Colômbia. Vários bascos, que estavam com o estatuto de refugiados políticos através de acordos entre os presidentes Carlos Andres Pérez e Felipe González, também foram extraditados para o Estado espanhol. Outros, foram detidos ou impedidos de entrar na Venezuela.

Com esta decisão, Hugo Chávez não só trai um dos princípios básicos de qualquer revolucionário como descredibiliza o processo bolivariano. Para além do aprofundamento das contradições no seio da experiência venezuelana, a imagem que fica é a de um governo que se ajoelha perante as exigências e as mentiras do imperialismo. Num processo verdadeiramente revolucionário não se pode querer agradar a todas as partes. Se o presidente venezuelano prosseguir com a traição à solidariedade internacionalista, o mais provável é ficar isolado.



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