Por Mario Augusto Jakobskind (*)
Sob total silêncio dos meios de comunicação conservadores brasileiros, foi divulgada a informação oficial segundo a qual veículos de imprensa e jornalistas venezuelanos receberam mais de quatro milhões de dólares nos últimos dois anos. Objetivo: desestabilizar o governo da República Bolivariana da Venezuela. A Lei de Acesso à Informação permitiu a divulgação de documentos do Departamento de Estado norte-americano. A grana foi distribuída através de três entidades públicas estadunidenses, a Fundação Panamericana para o Desenvolvimento, a Freedom House e a Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid).
Mas a documentação não foi totalmente liberada, pois o Departamento de Estado censurou a maioria dos nomes das organizações e jornalistas contemplados com o ouro de Washington. É isso aí, não tem mais ouro de Moscou, de Pequim ou de qualquer outra capital de país socialista, como “informavam” os jornalões na época da Guerra Fria. Mas o ouro de Washington continua a ser distribuído em vários quadrantes do planeta com o objetivo de desestabilizar governos que contestem a dominação da potência hegemônica.
Nesta etapa, a distribuição das benesses ficou a critério de organizações venezuelanas Espaço Público e Instituto de Imprensa, segundo ainda os documentos do Departamento de Estado norte-americano. Ou seja, não há dúvidas de que as campanhas antichavistas renderam bons frutos($) para grupos que há anos tentam de todas as formas impedir o aprofundamento da revolução bolivariana.
Tendo em vista tais fatos, não será surpresa alguma se amanhã novos documentos do Departamento de Estado mostrarem que em outros países, inclusive nas plagas abençoadas por Deus e bonitas por natureza, o ouro de Washington segue rolando com toda a intensidade. Quem acompanha os noticiários de televisão e os colunistas de sempre desconfia que o ouro de Washington recheie os bolsos dos referidos. Mas qualquer problema, a Sociedade Interamericana de Imprensa está aí para isso mesmo, ou seja, defender incondicionalmente as organizações midiáticas e jornalistas que venham eventualmente a ser denunciados por recebimento de polpudas verbas.
Já que estamos falando em meios de comunicação conservadores, mais uma vez O Globo se superou. Com o maior destaque, o jornal da família Marinho dizia, na primeira página do caderno de economia, em referência ao desastre provocado pela British Petróleo (BP) no Golfo do México, que o Brasil remava contra a maré mundial ao continuar prospectando petróleo em alto mar. O Globo quer porque quer que as reservas do pré-sal continuem intactas, pois em outras partes do mundo, inclusive nos Estados Unidos, as prospecções foram suspensas.
O jornal que historicamente sempre defendeu poderosos interesses internacionais, seja da área petrolífera ou financeira, preferiu ignorar as denúncias segundo as quais o desastre ecológico no Golfo do México se deveu basicamente ao fato de a BP ter tentado economizar na procura do petróleo em alto mar. Por aqui, quer queira ou não O Globo, a questão é outra, a tecnologia desenvolvida no setor é de alta qualidade. Não se poupa nas pesquisas, que no caso do pré-sal começaram há anos.
A propósito de manipulação de informação, não é de hoje que o MST vem sendo criminalizado por publicações conservadoras vinculadas ao agronegócio. Há oito meses, por exemplo, foi feito o maior escarcéu (por pressão da bancada ruralista), sobre supostas irregularidades relacionadas com verbas públicas e o MST. Pois bem, uma CPMI (Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara e Senado) conclui seu relatório com a informação segundo a qual não há nenhuma irregularidade na conta do movimento que luta pela reforma agrária. Essa foi a terceira CPI do gênero sobre o MST.
Mas se os leitores imaginam que a manipulação midiática terminou, não devem se iludir. Daqui mais algumas semanas, a mesma bancada ruralista vai pressionar no sentido de que seja criada mais uma CPI, pois a de agora “terminou em pizza”. E os setores conservadores, aglutinados em torno do candidato de FHC, José Serra, vão aproveitar a campanha presidencial para atacar.
Em suma: verbas do Departamento de Estado norte-americano, criminalização do MST e muitos outros fatos fazem parte do mesmo jogo que tem como pano de fundo a necessidade de manter o Brasil e a América Latina como um mero quintal ou pátio traseiro dos Estados Unidos. Veja, O Globo, TV Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S.Paulo estão aí para isso mesmo.
*Mário Augusto Jakobskind é jornalista, mora no Rio de Janeiro e é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de S. Paulo e editor de Internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do semanário Brasil de Fato. É autor, dentre outros livros, de “América que não está na mídia” e “Dossiê Tim Lopes – Fantástico / Ibope”. É colunista do site “Direto da Redação” e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.
Charges: Carlos Latuff.
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