terça-feira, 20 de julho de 2010

A outra tragédia - Fidel Castro

Reprodução

Cena do documentário Home, de Yann Arthus-Bertrand, sobre os impactos do homem no meio ambiente


Na minha reunião com os economistas do Centro de Pesquisas da Economia Mundial (CIEM, em espanhol), terça-feira, 13 de julho, falei-lhes do excelente documentário do diretor francês Yann Arthus-Bertrand, com a participação das mais preclaras e bem informadas personalidades internacionais, acerca de outro terrível perigo para a espécie humana que está acontecendo perante os nossos olhos: a destruição do meio ambiente.


O documentário afirma de forma clara e lapidária:


"Na grande aventura da vida na Terra, cada espécie tem um papel que desempenhar, cada espécie tem seu lugar. Nenhuma é inútil ou prejudicial, todas se equilibram. E eis onde você,
Homo sapiens, humano inteligente, entra na história. Beneficia-se de um fabuloso legado de 4 bilhões de anos, provido pela Terra. Você tem apenas 200 mil anos, mas já fez mudar a face do mundo".

"A invenção da agricultura mudou a nossa história. Há menos de 10 mil anos".


"A agricultura foi a nossa primeira grande revolução. Resultou nos primeiros excedentes e deu origem às cidades e às civilizações. As lembranças de milhares de anos à procura de comida esvaíram. Tendo feito do grão a levedura da vida, multiplicamos o número de variedades e aprendemos a adaptá-las a nossos solos e climas. Somos como todas as espécies na Terra. A nossa principal preocupação diária é a de nos alimentarmos. Quando o solo resulta menos generoso e a água se torna escassa, somos capazes de fazer esforços prodigiosos para tirar da terra o suficiente para continuarmos vivos".


"Metade da humanidade cultiva o solo; mais de três quartos o faz com as mãos".


"Energia pura. A energia do sol, apanhada durante milhões de anos por milhões de plantas há mais de 100 milhões de anos. É carvão. É gás. Mas sobretudo é petróleo".


"Nos últimos 60 anos, a população da Terra quase triplicou. E mais de dois bilhões de pessoas foram viver nas cidades".


"Nova York. A primeira megalópole do mundo é o ícone da exploração da energia que fornece a Terra ao engenho humano. A mão-de-obra de milhões de imigrantes, a energia do carvão, o indispensável poder do petróleo. Os Estados Unidos foram os primeiros em aproveitarem o fenomenal e revolucionário poder do 'ouro negro'. Nos campos, as máquinas substituíram os homens. Um litro de petróleo gera tanta energia como cem pares de mãos em 24 horas".


"Produzem suficiente grão para alimentar dois bilhões de pessoas. Porém, muito desse grão não é usado para alimentar pessoas. Aqui e em outras nações industrializadas é transformado em comida para o gado ou em biocombustível".


"Tão longe como alcança a vista, fertilizante abaixo, plástico acima. As estufas de Almeria, na Espanha, são a horta da Europa. Uma cidade de vegetais de tamanho uniforme espera cada dia centenas de caminhões que os levam para os supermercados do continente. E quanto mais desenvolvido for um país, mais carne consumirão seus habitantes. Como pode ser satisfeita a procura mundial sem recorrer às fazendas de gado, semelhantes a um campo de concentração? Cada vez mais rápido. No seu ciclo de vida, o gado pode não ter visto nunca uma pradaria".


"Nestas unidades de comida, lotadas de milhões de cabeças de gado, não cresce nem uma fibra de pastagem. Uma frota de caminhões traz de cada canto do país toneladas de grão, alimento de soja, e grânulos de proteína que se converterão em toneladas de carne. O resultado é que se necessitam 100 litros de água para produzir um quilo de batatas, 4 mil litros para um quilo de arroz e 13 mil litros para um quilo de carne bovina. Sem falarmos do petróleo queimado no processo de produção e no transporte".


"Sabemos que o fim do petróleo barato é iminente, mas nos recusamos a acreditar nisso".


"Los Angeles. Nesta cidade que se espalha ao longo de mais de cem quilômetros, o número de carros é quase o mesmo que o número de habitantes".


"O dia não parece mais do que um pálido reflexo das noites, que convertem a cidade em um céu estrelado".


"Em todas as partes as máquinas cavam, extraem e arrancam da terra os cacos de estrelas enterradas em suas profundezas, desde a sua criação... Minérios".


"…Os 80% desta riqueza mineral é consumida por 20% da população mundial. Antes do final deste século, a mineração excessiva terá acabado com quase a totalidade das reservas do planeta".


"Desde 1950, o volume de comércio internacional teve um incremento de 15 vezes; e 90% do comércio transita por mar. Quinhentos milhões de contêineres são transportados cada ano, enviados para os maiores centros de consumo…".


"Desde 1950, a captura de peixes se quintuplicou, de 18 milhões para 100 milhões de toneladas métricas por ano. Milhares de navios-fábrica estão esvaziando os oceanos. Três quartas partes das zonas de pesca estão esgotadas, acabadas ou em perigo de ser".


"Quinhentos milhões de humanos moram nas terras desérticas do mundo, mais do que toda a população conjunta da Europa".


"Israel converteu o deserto em terra arável. Ainda que agora essas fazendas sejam irrigadas pelo sistema de gota a gota, o consumo de água continua aumentando, junto com as exportações".


"O outrora poderoso rio Jordão é agora apenas um riacho; sua água voou para os supermercados de todo o mundo em caixas de frutas e vegetais".


"A Índia está em perigo de ser o país que mais sofrerá pela falta de água no século vindouro. A irrigação maciça alimentou a sua população crescente e nos últimos 50 anos, foram escavados 21 milhões de poços".


"Las Vegas foi construída no deserto. Ali moram milhões de pessoas. A cada mês seguem chegando aos milhares. Seus habitantes estão entre os maiores consumidores de água do mundo".


"Palm Springs é outra cidade do deserto com vegetação tropical e luxuosos campos de golfe. Quanto tempo mais continuará prosperando esta miragem? A Terra não pode suportar isso".


"O rio Colorado, que leva água para estas cidades, é um desses rios que já não chegam ao mar".


"A escassez de água poderia afetar dois bilhões de pessoas antes de 2025".


"Toda a matéria viva está ligada: água, ar, terra, árvores."


"As florestas primitivas fornecem um
habitat para três quartas partes da biodiversidade do planeta, isto é, de toda a vida na Terra".

"… em apenas 40 anos, a maior floresta tropical do mundo, a Amazônica, teve sua superfície reduzida em cerca de 20%; nela surgiram fazendas de criação de gado ou fazendas de soja; 95% dessa soja é usada para alimentar gado e aves de curral na Europa e na Ásia. Assim, uma floresta é transformada em carne".


"Mais de 2 bilhões de pessoas, quase um terço da população mundial, ainda depende do carvão. No Haiti, um dos países mais pobres do mundo, o carvão é um dos principais bens de consumo da população".


"Nas colinas do Haiti, apenas restam 2% das florestas…".


"Cada semana, mais de um milhão de pessoas aumenta a população das cidades do mundo. Um humano em cada seis mora agora em um ambiente precário, insalubre e superpovoado, sem acesso às necessidades diárias como água, esgotos, eletricidade. A fome alastra-se de novo. Afeta quase um bilhão de pessoas. Pelo planeta todo os pobres lutam por sobreviver, enquanto continuamos escavando à procura de recursos sem os quais já não podemos viver".


"As nossas atividades libertam volumes gigantescos de bióxido de carbono. Sem darmos por isso, molécula a molécula, temos afetado o equilíbrio climático da Terra".


"A coberta gelada do Ártico está se derretendo sob o efeito do aquecimento global. Essa calota perdeu 40% de sua espessura em 40 anos. No verão, sua superfície se encolhe ano após ano. Em 2030, poderia desaparecer durante os meses do verão. Há quem diga que em 2015".


"Para 2050, uma quarta parte das espécies terrestres poderia estar ameaçada pela extinção".


"…como a Groenlândia aquece rapidamente, a água doce do continente todo flui para a água salgada dos oceanos".


"O gelo da Groenlândia contém 20% de toda a água doce do planeta. Caso derreter, o nível do mar subirá em cerca de sete metros. A atmosfera do nosso planeta é um tudo indivisível. É um bem de que todos partilhamos".


"Na Groenlândia estão aparecendo lagos na paisagem. A camada de gelo se está derretendo a uma velocidade que nem os cientistas mais pessimistas previam há dez anos. Esses rios alimentados por geleiras se estão unindo mais e mais e emergindo à superfície. Achava-se que a água ficaria congelada nas profundezas do gelo. Antes pelo contrário, flui sob o gelo, levando o córtex de gelo rumo ao mar, onde se quebra convertendo-se em iceberg".


"A expansão da água ao se aquecer causou, só no século XX, uma elevação de 20 centímetros. Tudo se torna instável. Os recifes de coral são extremamente sensíveis à mínima mudança na temperatura da água; por volta de 30% deles já sumiu. São um elo essencial na cadeia das espécies".


"Se o nível do mar continuar subindo mais e mais rápido, o que farão as grandes cidades, como Tóquio, a cidade mais povoada do mundo?"


"… na Sibéria, e em muitas partes do mundo, há tanto frio que o solo está constantemente congelado. É conhecido como '
permafrost'. Sob esta superfície descansa uma bomba de tempo climática: metano, um gás de efeito estufa vinte vezes mais poderoso do que o bióxido de carbono. Se o 'permafrost' derreter, a libertação de metano poderá fazer com que o efeito estufa saia de controle, com consequências que ninguém pode prever".

"Os 20% da população do mundo consomem 80% dos seus recursos".


"O mundo investe doze vezes mais em despesas militares do que em ajuda aos países em desenvolvimento".


"Cinco mil pessoas morrem diariamente ao beberem água contaminada; um bilhão de pessoas não tem acesso a água potável".


"Cerca de um bilhão tem fome".


"Mais de 50% do grão comercializado no mundo é usado para alimento animal ou biocombustíveis".


"As espécies estão morrendo mil vezes mais rápido do que o ritmo natural".


"Três quartas partes das zonas de pesca estão esgotadas, diminuídas ou em descenso perigoso".


"A temperatura média nos últimos 15 anos foi a mais alta jamais registada".


"A camada de gelo é 40% mais delgada do que há 40 anos atrás".


Nos últimos minutos do documentário, o diretor Yann Arthus-Bertrand amolece a linguagem para elogiar alguns fatos positivos de países aos quais, sem ânimo de ofender nem magoar, viu-se no dever de mencionar.


Suas palavras finais foram:


"É tempo de estarmos todos juntos. O que é importante não é o que se foi, mas o que permanece. Ainda temos metade das florestas do mundo, milhares de rios, lagos e geleiras e milhares de espécies com sucesso.


Hoje sabemos que as soluções estão aqui. Todos temos o poder para mudar. Então, o que estamos esperando?


Depende de nós escrever o que é o seguinte. Juntos".


O tema que vem ocupando a maior parte dos meus esforços: o iminente perigo de uma guerra que seria a última da pré-história da nossa espécie, ao qual dediquei nove Reflexões desde 1º de Junho, constitui um problema que se agrava por dia.


Como é lógico, os 99,9 % das pessoas têm a esperança de que predomine um elementar senso comum.


Infelizmente, devido a todos os elementos da realidade que percebo, não vejo a menor possibilidade de que assim seja.


Portanto, julgo que seria muito mais prático que os nossos povos se preparem para encarar essa realidade. Nisso consistirá a nossa única esperança.


Os iranianos têm feito precisamente isso, como nós fizemos em outubro de 1962, em que optamos por desaparecer antes que deixar cair nossas bandeiras.


Foi ontem como hoje, por desígnios do azar, não méritos da inteligência ou da história individual de qualquer um de nós.


As notícias que chegam cada dia procedentes do Irã não se afastam um milímetro da posição assinalada por eles de manterem seus justos direitos à paz e ao desenvolvimento, com um elemento novo: já conseguiram produzir 20 quilos de urânio enriquecido a 20%, suficientes para construir um engenho nuclear, o que enlouquece ainda mais aqueles que há um bom tempo adotaram a decisão de os atacar. Isso o examinei sexta-feira, dia 16, com os nossos embaixadores.


Nem Obama poderia alterá-la, nem mostrou em momento algum a decisão de o fazer.

Copiado do blog Opera Mundi


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