sábado, 2 de julho de 2011

Acuado, Jobim diz que “alguns jornalistas” é que são “idiotas”

Fonte Vermelho

Criticado pela presidente Dilma Rousseff, o ministro Nelson Jobim (Defesa) poupou o governo ao explicar o teor de seu discurso, ou "monólogo", na homenagem pelos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo Jobim, era a “alguns jornalistas” que ele se referia quando disse estar cercado de “idiotas”, em alusão a uma frase do escritor Nelson Rodrigues.

A declaração foi considerada "desastrosa" por auxiliares diretos de Dilma. "Ele criou um ambiente que não existia, sem a menor necessidade", disse um assessor. A própria presidente teria considerado "desnecessária" a observação de Jobim, que causou "perplexidade" no governo.

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Na sexta-feira (1º), Jobim se encontrou com Dilma e com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. A presidente exigiu explicações públicas do ministro e deixou claro que o polêmico discurso pode ser interpretado como uma referência a representantes do governo.

Como a declaração gerou mal-estar no governo, Dilma também cobrou que o problema fosse resolvido às pressas, sem fogo amigo, evitando mais desgastes. Ao se despedir de Dilma, Jobim informou que se explicaria à tarde, provavelmente por nota, para dizer que foi “mal-entendido”.

Assim, já no começo da tarde de sexta, começou a “operação abafa” para blindar Jobim. Ideli se antecipou ao ministro e afirmou que “não há crise nenhuma” no relacionamento entre ele e o Planalto. “Está tudo tranquilo”, disse ela, ao ser indagada por jornalistas sobre o discurso. “Não foi nenhum recado para o governo.”

Segundo a ministra, a reunião — que durou mais de duas horas — tratou do sigilo de documentos e de outras questões. Ideli disse que a fala de Jobim foi abordado em "tom ameno" e que o ministro "deu a entender" que se explicaria publicamente sobre o caso.

Minutos depois, foi a vez de o ministro falar. "Não sabem ler", esbravejou, pontuando que se referia a "alguns jornalistas que escrevem para o esquecimento". Era uma nova referência — desta vez, disse ele, a um texto do escritor argentino Jorge Luiz Borges, segundo o qual quem escreve para a memória e para a história são os escritores.

“Estão querendo fazer intriga”, declarou Jobim, agregando que suas relações com Dilma "estão ótimas". De acordo com o ministro, Dilma afirmou a ele que "percebeu logo" que era uma citação que ele já havia feito anteriormente. Jobim acrescentou que, ao recebê-lo, Dilma teria brincado: "Ô, Nelson, estão querendo intrigar a gente?".

Jobim informou a presidenta ainda que ia procurar jornalistas para "esclarecer" o episódio e "encerrá-lo" de vez. "Estão procurando chifre em cabeça de burro", prosseguiu o ministro, que embarcou na tarde desta sexta-feira para Londres, onde participará com reuniões com o ministro da defesa inglês.

A avaliação de Jobim é de que suas declarações tiveram uma "amplitude demasiada". A assessores, Jobim reafirmou que sua declaração ganhou uma "amplitude além do que ele desejava". Já à imprensa, disse que está satisfeito com o governo e que não quer deixar o ministério. Avisou também que tem colaborado com o Planalto, inclusive para a articulação política — mas sobretudo para a aprovação de projetos como o que trata do acesso a documentos públicos e da criação da Comissão da Verdade, que estiveram na pauta da reunião.

A fala da discórdia

O epicentro da crise foi um trecho do discurso de Jobim no ato pró-FHC realizado na quinta-feira (30) no Senado. “Ele (Nelson Rodrigues) dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento.”

Para quem estava na homenagem, a suposta crítica a “alguns jornalistas” não foi a impressão deixada pela fala no momento em que Jobim a proferiu. "O que ele está querendo dizer?", indagou um petista. "Ele estava falando de nós", interpretou outro membro da base aliada ao governo.

A avaliação corrente foi a de que o ministro estava defendendo o governo tucano e atacando indiretamente a gestão Dilma. Tanto que, no começo de seu desastrado discurso da discórdia, Jobim avisou: deixaria "vazios" que FHC "compreenderia perfeitamente". A se aceitar que o ministro falava de jornalistas, ainda assim restam outros "vazios" na fala.

Os rasgados elogios a FHC (“você mostrou que relação de poder não se confunde com arrogância", “coube-lhe a construção de um processo político de tolerância, compreensão e criação") soaram como contrapontos a Dilma. “Só os inseguros são autoritários”, completou Jobim. Os autoritários seriam os tais jornalistas?

Jobim também disse que FHC “nunca levantou a voz para ninguém, nunca criou tensionamentos entre os que o assessoravam”, o que foi interpretado como comparação com Dilma, que tem fama de ser rígida com assessores. Segundo Jobim, foi apenas “uma constatação, a de que o Fernando tem um ótimo temperamento".

Militares acharam graça da hipótese de Jobim criticar o estilo de Dilma. Segundo eles, seria "o sujo falando do mal lavado", pois o ministro é que costuma desrespeitar assessores e abusar da má educação, mesmo publicamente.

Da Redação, com agências

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