Existem coisas que para nós são tão óbvias que nem são discutidas.
São positivas, são negativas?
São assim, e ponto final.
Ninguém são de mente põe em discussão estes que são autênticos dogmas laicos.
Por exemplo: o salário mínimo.
É bom? É mau?
A primeira resposta que surge na cabeça (incluída a minha) é: "bom", sem dúvidas.
Porque sem salários mínimos as empresas optariam por salários cada vez mais baixos. Porque ao eliminar o salário mínimo haveria uma queda em todos os sectores salariais (o efeito "bola de neve" para usar uma expressão tão querida aos Portugueses, a maior parte dos quais nunca viu uma bola de neve). E porque afinal o cidadão não pode ser pago tão mal, tem que contar com o mínimo indispensável.
O Salário Mínimo
Aparentemente é mesmo assim.Em varios Países do mundo (mas não em todos) existe o salário mínimo.
Eis alguns exemplo:
Brasil 237 €
Portugal 475 €
Espanha 638 €
Grécia 740 €
Islândia 751 €
Chipre 840 €
Reino Unido 1.117 €
França 1.343 €
Alemanha 1.466 €
Luxemburgo 1.682 €
Em outros Países, como Italia, Suíça, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, o salário mínimo não existe.
"Cartéis"?
E vamos ver quais os problemas num sistema sem salário mínimo.
A maior preocupação é sem dúvida aquela pela as empresas formariam "cartéis" para obrigar os trabalhadores a aceitar salários mais baixos?
Faz sentido.
Mas também faz sentido outro aspecto: as empresas necessitam de bons trabalhadores. E num regime sem salário mínimo, seriam obrigadas a oferecer mais para atrair os melhores.
E mesmo ao sair da ideia do trabalhador mais ou menos bom, as empresas precisam de trabalhadores; e, ao mesmo tempo, têm de esperar que ninguém aceite trabalhar na concorrência: o salário seria assim um importante factor de competitividade e os trabalhadores, com os sindicatos, poderia "jogar" para manter elevada a concorrência neste sector e obter as melhores condições.
Salários mais baixo?
Outro ponto é aquele segundo o qual a eliminação do salário mínimo empurraria para baixo os outros salários também. Neste caso estamos perante um erro de concepção: já agora, o salário mínimo nacional não é o ponto de partida para todos os salários, há diversidades determinadas por vários factores.
E, na verdade, o salário mínimo acaba com o representar o "acesso" ao trabalho, não é uma condição que seja possível manter ao longo de muito tempo (por questão de experiência acumulada nas funções, por méritos, etc.).
Todos iguais?
Nota doente é o terceiro ponto, segundo o qual todos deveriam poder contar com um mínimo.
A minha posição é: sim e não
Sim porque é verdade que um trabalhador jovem, sem experiência, deve ter o direito de poder viver de forma digna enquanto cresce do ponto de vista do trabalho e adquire confiança.
Não porque temos que ser honestos: há bons e maus trabalhadores.
Porque um trabalhador que não faz o próprio dever deve receber o mesmo de que, pelo contrário, trabalha com empenho?
É possível objectar que os melhores ganham mais, são promovidos, etc. Mas também o trabalhador que não faz o próprio dever acaba por ser promovido, com o passar do tempo, por uma questão de "tempo de casa".
Neste aspecto, um trabalhador com bastante "tempo de casa" ganha muito mais dum trabalhador jovem que se demonstra empenho.
Salário e desemprego
E, para acabar, eis um aspecto que raramente é mencionado: o efeito do salário mínimo perante o desemprego.
Por exemplo: uma empresa com 10 trabalhadores que ganham o salário mínimo de 500 €.
Com uma nova lei, oeste valor é aumentado até 520 €.
20 € vezes 10 trabalhadores, são 200 € que a cada mês a empresa terá que encontrar para os vencimentos.
O problema é que o orçamento permite apenas 500 €, não 520.
Solução? Diminuir o pessoal e ficar assim no âmbito do orçamento. E mais desemprego.
Em verdade as coisas raramente funcionam desta forma, e afirmar que o salário mínimo contribui para o desemprego não é correcto. Mais do que isso, seria preciso falar dos impostos.
Mas não deixa de ser uma situação que cria tensão, isso sim.
Resumindo: mah...
Como muitas vezes acontece, as dúvidas dominam a cena.
Há Países onde não existe o salário mínimo nacional e, mesmo assim, o nível de vida é elevado (Noruega, Suécia...).
Mas o perigo dum cartel constituído por empresas que prefiram poupar à custa da qualidade do trabalho, também isso é real.
Os Portugueses, por exemplo, lembram ainda muito bem o que aconteceu com a liberalização do preço dos combustíveis: hoje é virtualmente impossível abastecer o próprio carro poupando alguns cêntimos face à concorrência, pelo simples facto de que não há concorrência, todas as companhias aplicam o mesmo preço.
Esta é uma realidade, não apenas teoria.
Todavia mantenho a minha ideia, pela qual quem não trabalha de forma correcta não pode ganhar o mesmo de quem, pelo contrário, aplica-se. E também esta é uma realidade. Sem considerar a questão dos jovens que entram no mundo do trabalho e devem ser protegidos (ponto extremamente importante), como vimos, quem mais merece tem de ser premiado.
Caso contrário, temos um nivelamento para baixo e quem paga podem ser sim a empresa; mas também nós, por uma razão muito simples: produção pouco eficiente, custo do trabalho mais caro, custo final do produto
(ou do serviço) mais elevado.
Ipse dixit.
Fonte: Freedonia
Há Países onde não existe o salário mínimo nacional e, mesmo assim, o nível de vida é elevado (Noruega, Suécia...).
Mas o perigo dum cartel constituído por empresas que prefiram poupar à custa da qualidade do trabalho, também isso é real.
Os Portugueses, por exemplo, lembram ainda muito bem o que aconteceu com a liberalização do preço dos combustíveis: hoje é virtualmente impossível abastecer o próprio carro poupando alguns cêntimos face à concorrência, pelo simples facto de que não há concorrência, todas as companhias aplicam o mesmo preço.
Esta é uma realidade, não apenas teoria.
Todavia mantenho a minha ideia, pela qual quem não trabalha de forma correcta não pode ganhar o mesmo de quem, pelo contrário, aplica-se. E também esta é uma realidade. Sem considerar a questão dos jovens que entram no mundo do trabalho e devem ser protegidos (ponto extremamente importante), como vimos, quem mais merece tem de ser premiado.
Caso contrário, temos um nivelamento para baixo e quem paga podem ser sim a empresa; mas também nós, por uma razão muito simples: produção pouco eficiente, custo do trabalho mais caro, custo final do produto
(ou do serviço) mais elevado.
Ipse dixit.
Fonte: Freedonia
2 comentários:
Amigo...ótimo e conveniente post, mas me trouxe recordações que até dói só de pensar. Me fez lembrar de toda matéria de Economia do trabalho (macro) e Sociologia do Trabalho que venho estudando a anos para passar em um concurso.
Esse tema é muito complexo, de tudo concordo com você que aqui no Brasil só mesmo estipulando o salário mínimo e mesmo assim ainda tem quem não o cumpre.
Abraços. Rosa
Boa sorte no concurso Rosa, realmente é bastante complexo. Eu tenho minhas duvidas, com ele ou sem ele nada muda se não tivermos (nós povo) um objetivo que nos pertença.
Um grande abraço
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