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Filipe Diniz
Enquanto o produto interno bruto global reduziu 2% e o desemprego global aumentou 14,4% em 2009 (atingindo 211,5 milhões), as fortunas conjuntas dos mais ricos aumentaram 9,4%. 4,5 milhões destes milionários estão nos EUA e no Japão, duas economias em profunda crise.
As firmas Merryl Linch e Capgemini publicam anualmente o World Wealth Report (Relatório sobre a riqueza mundial). De facto, este relatório não é bem sobre a riqueza mundial. É sobre uns quantos que concentram essa riqueza nos seus bolsos.
Dividem-se em duas categorias: os HNWI (high net worth individuals, indivíduos com elevado rendimento líquido individual: igual ou superior a 1 milhão de dólares) e os UHNWI (ultra high net worth individuals, indivíduos com ultra elevado rendimento líquido individual: igual ou superior a 30 milhões de dólares).
A curiosidade destes relatórios reside em perceber para que servem. Uma das conclusões que se tira é de que as firmas relatoras estudam o comportamento dos HNWI e dos UHNWI porque acreditam que daí depende parte do futuro da economia mundial. Mas o que se verifica é que daí dependem, no fundamental, não a economia mas as dinâmicas da especulação (bolsista, imobiliária, financeira, commodities) e os processos de centralização e concentração do capital. Não só não é na economia real que os HNWI procuram assegurar e multiplicar os seus ganhos como parece ser mais fácil descobrir uma correlação entre o que a economia perdeu e o que estes HNWI ganharam.
O relatório confirma que o capital não tem pátria. Os HNWI tendem a investir noutro lado: os asiáticos na Europa, os latino-americanos na Ásia, os norte-americanos na Ásia e na Europa, os europeus na Ásia e na América Latina.
Os HNWI investem em clubes de futebol; em joalharia, pedras preciosas e relógios; em arte e coleccionáveis de luxo. A venda de iates de luxo, de jactos privados, de automóveis de luxo teve uma lamentável quebra em 2009 mas, diz o relatório, apresenta sinais muito animadores em 2010.
Enquanto o produto interno bruto global reduziu 2% e o desemprego global aumentou 14,4% em 2009 (atingindo 211,5 milhões), as fortunas conjuntas dos HNWI e dos UHNWI aumentaram 9,4%. 53,5% do total de HNWI situa-se nos EUA, Japão e Alemanha. 4,5 milhões de HNWI estão nos EUA e no Japão, duas economias em profunda crise.
Parece que em Portugal houve uma quebra no número de HNWI. As duas troikas não deixarão de vir em seu socorro.
Parece que em Portugal houve uma quebra no número de HNWI. As duas troikas não deixarão de vir em seu socorro.
*este artigo foi publicado no “Avante!” nº 1961 de 30.06.2011
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