quinta-feira, 14 de julho de 2011

A anti poesia mórbida de Augusto dos Anjos

O poeta concreto Haroldo de Campos sempre falava da “tradição férrea” da poesia no Brasil, presa a uma “eternidade” romântico-parnasiana. Quando explodiu o Movimento de Poesia da Poesia Concreta, poetas, literatos e imbecis da mídia não perdoaram.  Os concretistas foram vitimados por uma enxurrada de indignações. Com o Movimento do Poema/Processo, a mesma coisa. Até hoje, após a Semana de 22, os Concretistas, os poetas/processo, os experimentalistas de novas linguagens poéticas em geral, persiste a “tradição férrea” na poesia brasileira.  O lirismo dos luares continua produzindo poetas em flor. Imaginem em 1912, na Paraíba, em meio a um romantismo florido e acadêmico, o que aconteceu quando o poeta Augusto dos Anjos lançou “EU E OUTRAS POESIAS”?

Uma anti-poesia de versos mórbidos, cuja espinha dorsal era a putrefação da carne, vermes e uma obsessão desesperada pela morte. Depois de muitas décadas, reli “EU” de Augusto dos Anjos e confirmei sua genialidade. Impossível ler Augusto dos Anjos, sem lembrar-se de João Cabral de Melo Neto e sua também obsessão pela morte. O que separa Augusto dos Anjos de Cabral, óbvio, são linguagens, arquiteturas poéticas. Cabral, nas suas raras falas, sempre mostrou sua admiração pela poética de Augusto dos Anjos. Nos cemitérios cabralinos há uma paisagem árida da morte. Augusto dos Anjos foi além: penetrou à podridão a carne: “Na evolução da minha dor grotesca/ Eu mendigava aos vermes insubmissos”.
O “Deus Verme” de Augusto dos Anjos, título de um de seus poemas, reduz o ser humano a um monte de carne podre, no açougue poético deste genial paraibano, que (re) descobri como um dos maiores poetas brasileiros e um dos precursores de uma antipoética muito além de belas paisagens e sonetos de amor.
“O coração do poeta/ é um hospital onde morreram todos os doentes” diz Augusto dos Anjos no poema “Queixas Noturnas”. Muito além dos estudiosos da obra de Augusto dos Anjos, enxergam na sua poesia, uma visão científica que se manifesta no conhecimento de anatomia que o poeta expõe com freqüência nos seus versos. Anatol Rosenfeld acha que há de Baudelaire na poética do mórbido poeta paraibano em “tirar uma beleza alexandrina do feio e do horroroso”. Na realidade o poeta Augusto dos Anjos sempre correu atrás do “desfiguramento do ato poético”.
Como escreve Arnoni Prado, no prefácio da edição de 2000 do “EU” pela Editora Martins Fontes.  Esse “desfiguramento” que espantou os literatos no Rio de Janeiro, principalmente, onde em 1912, foi lançado o “estranho” livro do poeta. É interessante notar que na época, o “EU” foi amado pelos leitores e encerado pelos literatos de paletó e gravata.

Buscado no Carta Potiguar

4 comentários:

Bicho Maluka Beleza!!! disse...

Olá! venho agradecer por seguir meu blog! E avisar que infelizmente,ele fechou (problema de conta e senhas)...então já lhe convido para uma visita ao meu novo blog que na verdade é o mesmo(http://bichomalukobeleza.blogspot.com/) só que noutra conta! Aguardo sua visita e mais uma vez agradeço por ter feito parte do meu blog,anterior! abraço. =)

Ademir Braz disse...

Caro:
Sou seguidor do seu blog,esse sujeito aí risonho entre os demais seguidores. Sou do sudeste do Pará, sertão maltratado pelo desamparo e, agora, vilipendiado porque queremos nos livrar de nossos algozes.
Golsto do seu estilo.
Se puder, dê uma olhada no meu blog torto: http://quaradouro.blogspot.com.br
Abraços.

jader resende disse...

Maluka Beleza é um prazer acompanhar teu espaço.
Também tive outro blog e dei fim, transportei algumas postagens e outras estão de molho para ser republicadas, boa sorte e estamos juntos.
Abraços.

jader resende disse...

Ademir, já visitei teu blog algumas vezes, não sou bom em comentários e acabo não sendo percebido, lembro-me da foto do Quaradouro. É uma bela foto, quem é o fotografo?
Coloquei seu link no blog e prometo que ao visita-lo deixarei um alô.
Abraços