SEX, 15 DE JUNHO DE
2012 05:36 TIAGO AZEVEDO DE AGUIAR
Nesta sexta-feira, 15,
diversas atividades marcam um ano do assassinato do 3º blogueiro e
ativista social em todo o mundo (antes de #EdinaldoFilgueira
foram mortos por seu ativismo o iraniano Omid Reza Mir Sayafi e o
Bahraini Zakariya Rashid Hassan al-Ashiri).
A Deputada Federal
Fátima Bezerra (PT-RN) apresentará projeto de lei idealizado no III
Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, haverá passeata e
missa em sua cidade natal, além de um twitaço com a hashtag
#EdinaldoFilgueira. Edinaldo Filgueira foi um lutador social, filho
de agricultores que nem sobrenome possuíam. Foi militante no
movimento estudantil, cultural, adquiriu formação superior,
jornalista, blogueiro, presidente do PT em sua cidade, e é um mártir
na luta pela democratização das comunicações.
”Despite legislative progressive and some success in
combating impunity, Brazil can still be dangerous for journalists,
especially in the north and northeast. As in other countries,
organized crime continues to be the main direct source of threats.
Handicapped by conflicts of interest, Brazil’s media are also
increasingly exposed to political and judicial harassment, while
Internet journalists are often subject to preventive censorship.[1]
Em
tradução livre, o texto acima transcrito, contido no sitio da
organização internacional Reporters Without Borders, diz o
seguinte: “A despeito do progresso legislativo e algum sucesso no
combate à impunidade, o Brasil pode, ainda, ser perigoso para
jornalistas, especialmente no norte e nordeste. Tal qual em outros
países, o crime organizado continua a ser a principal fonte direta
de ameaças. Aleijados por conflitos de interesses, a mídia
brasileira está também, cada vez mais, exposta a assédio político
e judicial, enquanto jornalistas na Internet são frequentemente
submetidos à censura preventiva”.
Para assistir ao
documentário, basta clicar aqui. O
Blog da Dilma já divulgou a iniciativa em uma entrevista que pode
ser lida aqui. 116-blogs/1320-edinaldo-calou.htmlA
seguir republicamos um texto escrito pouco após o abominável crime:
“Mas existe nesta
terra
muito homem de valor
que é bravo sem matar
gente
mas não teme o matador
que gosta de sua gente
e que luta a seu favor
como #EdinaldoFilgueira*
feito de ferro e flor”
Serra do Mel é uma
pequena cidade no interior do Rio Grande do Norte, uma terra onde
muitas leis apenas estão nos livros e papeis, e que a realidade não
é crível.
Fruto de um projeto de
reforma agrária, a cidade foi planejada com 23 agrovilas, projeto
baseado nos moshav israelenses. Cada agrovila possui um nome de um
estado brasileiro, e o centro administrativo está nas vilas de
Brasília e do Rio Grande do Norte, hoje conurbadas.
Uma cidade em que a
democracia é apenas uma ilusão. Uma cidade em que a única torre de
telefonia é desligada a mando dos poderosos conforme o seu
interesse. Uma cidade em que seus habitantes não escolhem
democraticamente os seus governantes. Uma cidade em que o coronelismo
se espelha no número de eleitores, dois mil votantes a mais que
habitantes, com ônibus transportando desconhecidos dos locais. Uma
cidade em que é proibido andar de capacetes em motocicletas, em face
ao crime organizado e constante ameaça de pistoleiros.
Edinaldo Filgueira era
um dos colonos de Serra do Mel, e sua batalha era contra a opressão
e o sistema coronelista local. Foi o fundador e editor do primeiro
jornal da cidade, também foi o homem que levou o acesso a internet
para Serra do Mel, tanto o provedor de acesso, quanto a lan house da
pequena cidade.
Com muito suor
conseguiu se formar em administração de empresas, viajando 60km
todas as noites após um dia de trabalho. Mas Edinaldo era
incansável, era o organizador independente que tocava grupos de
teatros, concursos de canções, mostras folclóricas de boi de reis.
Ednaldo, antes de tudo,
acreditava na informação como forma de libertação da humanidade.
Acreditava que o conhecimento e a comunicação livres eram as armas
para destruir os grilhões. Edinaldo era blogueiro, e foi assassinado
ao questionar a população através de uma enquete em seu blogue
sobre a educação pública de Serra do Mel. Ameaçado, retirou a
enquete do ar – mas a sua vida já estava encomendada a um grupo de
pistoleiros, já perseguidos pela polícia na operação “matadores
de aluguel”. Sua vida foi ceifada em frente de seu pequeno
comércio, um dia após colocar na web a enquete, sem direito à
defesa, de maneira covarde. A loja de Edinaldo ficava a apenas 50m da
delegacia de polícia, mas nada foi feito em sua defesa.
Edinaldo foi morto
quando concluía a edição 51 de seu jornal. Resgatamos o material
inconcluso, escrevemos alguma homenagem, e entregamos ao povo de
Serra do Mel.Esta edição do jornal pode ser lida aqui.
Edinaldo conseguiu que a edição 51 do Jornal o Serrano fosse
distribuída, mas Edinaldo nunca poderá ser substituído.
Que Edinaldo nunca seja
esquecido, calado, que a sua voz sempre ecoe. Faltam palavras para
este que escreve sobre a tristeza amarga de ver uma pessoa simples,
humilde, lutadora, ser morta. Mas não faltará trabalho, nem vontade
de lutar por justiça. O prefeito de Serra do Mel é indiciado como
autor intelectual do crime, e entre os matadores presos, três são
parentes do prefeito. Somos frágeis, somos humanos, mas somos
muitos. Os poderosos não poderão dar conta de todos.
*Poema escrito por
Ferreira Gullar para homenagear o líder camponês Gregório
Bezerra, lido durante a entrega dos jornais em Serra do Mel como
parte das homenagens a Edinaldo Filgueira. (17/12/2011)
(texto por TiagoAguiar; por
Tiago Aguiar e AdrianaAmorim; O projeto de lei
foi redigido por Liana Carlan. A lista de agradecimentos é
imensa, tão extensa que ocuparia muitos posts. Tudo foi realizado na
militância pela democratização das comunicações).
ps:
leia
aqui uma
entrevista com o advogado assistente de acusação sobre a situação
do caso;
leia
mais sobre
a violência contra comunicadores no Rio Pequeno do Norte;
leia
sobre aqui
atuação do CNJ apurando casos de corrupção no Rio Grande do
Norte, veja uma entrevista com o sociólogo Antônio Spinelli.
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