sexta-feira, 18 de maio de 2012

CULTURA BRASILEIRA É PRA QUEM TEM CORAGEM

buscado no Trezentos



Por Carlos Henrique Machado Freitas

Todo artista brasileiro que, no momento atual, fizer arte brasileira, é um ser eficiente com valor humano. O que fizer arte internacional ou estrangeira, se não for um gênio, é um inútil, um nulo. É uma reverendíssima besta.” 
(Mário de Andrade).

O critério estabelecido, melhor, conduzido pelo padrão do mercado necessitou fabricar, por meio de publicidade e de um patrulhamento regulado pelos interesses transnacionais, que os países deveriam obedecer à agenda de investimento das multinacionais como uma nova hierarquia estética. A partir daí a deformação empregada nas novas relações, a ideia de mercado internacional em relações pontuais criou em uma parcela ínfima da sociedade brasileira o reduzido pensamento de homem universal tal como o modelo da globalização tinha como padrão.
O abandono da própria imagem social por uma outra “redescoberta” fundada pelos interesses econômicos, a partir da metade do século passado, manteve implacáveis e radicais racionalidades exigindo uma flexibilização tropical para a adaptabilidade de uma nova ordem econômica nas relações empresariais da cultura. E é dessas combinações, segundo a fórmula sugerida pelo poder hegemônico global, que todo um processo cheio de circunstâncias fabricadas impôs uma constituição do espaço geográfico das instituições brasileiras. Isso, em certa medida, dificultou as relações interpessoais, dentro do Brasil, desestimulou a solidariedade social entre os indivíduos e a sociedade, e entre esta e o Estado.
Falida esta onda globalitária – conceito empregado por Milton Santos – este modelo não tem mais razão de ser. E é o próprio Milton Santos que nos dá uma ideia clara do que ele chama de “a centralidade periférica”.
A ideia da irreversibilidade da globalização atual é aparentemente reforçada cada vez que constatamos a inter-relação atual entre cada país e o que chamamos de “mundo”, assim como a interdependência, hoje indiscutível, entre a história geral e as histórias particulares. Na verdade, isso também tem a ver com a ideia também estabelecida, de que a história seria sempre feita a partir dos países centrais, isto é, da Europa e dos Estados Unidos, aos quais, de modo geral, o presente estado de coisas interessa.” (Milton Santos).
O Brasil vive um momento histórico em que as liberdades aparecem em cada passo e compasso das manifestações da sociedade. Isso torna o Brasil uma nova fonte de riqueza aproveitando essas novas possibilidades para que um maior número de cidadãos discuta a sua realidade e assuma um quinhão de responsabilidade na execução de um novo país.
O governo tem cumprido uma agenda majoritária seguindo de forma considerável as próprias correntes populares, introduzindo um ritmo novo nas relações nacionais e internacionais, mantendo livres os movimentos da sociedade para que eles determinem como tornar cada ponto específico de suas escolhas em realidade na atual gestão do governo Dilma, assim como foi no governo Lula.
Há, no entanto, dentro do MinC, uma peculiaridade anti-nacional feita por uma falsa leitura de timbração europeia que importa conceitos de desnacionalização de nossa cultura para aplicar um vocabulário economicista sem condições de sair da própria vulgarização do termo, mercado cultural global.
Então, o Ministério da Cultura celebra um projeto hegemônico limitado à globalização cultural para tentar se constituir em uma nova promessa de reformulação da ordem mundial. Isso significa que, depois de oito anos de avanço do governo Lula, nós da cultura deixamos de discutir um elenco de políticas sociais para nos jogarmos aos níveis inferiores de uma governança global em que o fator nacional é deixado de lado para, num retrocesso retumbante, tentar jogar a sociedade numa visão de mundo, uma espécie de volta à velha noção do status quo.
O Ministério da Cultura tenta de forma impossível construir um discurso de liberação do artista brasileiro censurando toda a base intelectual e política embutida nos processos que orientam a nossa criação. Com isso, além de ampliar, via relações culturais, uma histórica dívida social marginalizando e renegando a função inserida na base da sociedade, o MinC tenta colocar a mesma a serviço de uma nova etapa de consumo ambicionado por um bloco mecânico que é difundido no mundo a partir de um cenário econômico que estabeleça um mercado via empresas e devolva a cultura à competitividade sempre buscando o mercado.
Ocorre que o Estado, assim como o atual mercado, não tem mais um estatuto político que imponha mais os elementos fundamentais de uma técnica hegemônica. A presença do cidadão a partir das novas tecnologias, criou novos movimentos sociais, novos símbolos de baixo para cima. Tudo isso somado, é produto da cultura popular e é ela a portadora de uma nova verdade da existência do homem no planeta e, portanto, a cada dia é revelado pelo próprio movimento uma nova forma de ação.
Mas parece que essa tendência crescente de aglomeração popular que, assim como no Brasil, está presente em variados pontos do planeta, não é identificada pelo Ministério da cultura. Talvez por comodidade ou por uma pretensão vinda de uma força anti-nacional que falsifica o sentido do Ministério da Cultura do Brasil.
É nítido que o Ministério da Cultura não tem coragem de ser brasileiro. Por isso busca e rebusca um discurso pitoresco em torno da pira econômica para tentar se fazer perceber diante da fraqueza crua da tônica da chamada indústria criativa. E o resultado não é outro, estamos diante de um ministério socialmente primitivo, economicamente perdido e conceitualmente falido.
Carlos Henrique Machado Freitas é músico, compositor e bandolinista.

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