buscado no Diário Centro do Mundo
Falha minha.
Omissão.
Em tantos artigos que escrevi, não fiz ainda o elogio do soldado americano Bradley Manning, de 24 anos.
Manning está preso há dois anos, acusado de ter vazado para o
Wikileaks documentos confidenciais da diplomacia americana ao redor do
mundo. Manning teria também passado ao Wikileaks o histórico vídeo que
mostra soldados americanos matando, de um helicóptero Apache, civis no
Iraque.
Manning, se fez isso mesmo, o que é provável, combateu o bom combate.
Não é à toa que muitas pessoas o indicaram para o Nobel da Paz. Mas o
que ele ganhou mesmo foi um regime de prisão solitária capaz de destruir
a sanidade rapidamente. Manning só saiu da solitária por pressão de
ativistas, entre os quais se destaca o blogueiro Glenn Greenwald, da
revista digital Salon. Greenwald foi a primeira voz a denunciar as condições desumanas em que vivia Manning.
Graças ao vídeo vazado, o mundo pôde ver o que era — e é — a Guerra
do Iraque. Pôde ver, também, o caráter das guerras movidas pelos Estados
Unidos em nome da civilização e da democracia.
Os iraquianos viviam melhor sob Saddam Hussein do que sob os
americanos. Da mesma forma, os afegãos viviam melhor sob o Talibã do que
sob os americanos.
Manning contribuiu para que todos pudéssemos entender melhor as
coisas. Você não resolve um problema se não consegue enxergá-lo.
Manning nos ajudou a todos a enxergar o problema.
A humanidade como que acordou depois dos vazamentos atribuídos a
Manning. A Primavera Árabe é, em boa parte, fruto dos documentos que
foram publicados. A corrupção e a violência de governos de países como o
Egito e a Tunísia ficaram dramaticamente expostas. E isso foi essencial
para que as pessoas tomassem as ruas e varressem administrações
predadoras — apoiadas, aliás, pelos Estados Unidos.
A Primavera Árabe acabou contagiando até os americanos. O movimento Ocupe Wall St foi inspirado nela.
Com tudo isso, a agenda planetária mudou. Foi numa atmosfera
internacional de protesto e inconformismo que emergiram estatísticas que
mostram a espetacular concentração de renda ocorrida nos países ricos
nos últimos trinta anos. É nesse quadro que provavelmente Nicolas
Sarkozy será derrotado nas eleições presidenciais francesas daqui a
poucos dias. Sarkozy representa o 1%, para usar a grande expressão
criada pelo Ocupe Wall St: “Somos os 99%.”
Bradley Manning está na origem dessa mudança formidável que vai se operando no mundo.
Por isso é um herói.
Nenhum comentário:
Postar um comentário