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Zoroastro Sant’Anna - Jornalista e cineasta
Nosso Homem nº 18
Sou
filho de militar, cassado em 64, mas militar. Fui criado na Vila
Militar do Galeão, Ilha do Governador. Cursei o internato do Colégio
Militar do Rio de Janeiro, Esquadrão de Cavalaria, 4ª Companhia, de onde
saí em 1965 pressionado pelos oficiais da administração embora querido
pelos generais professores de quem eu era um bom aluno. Além de ser o
Orador Oficial do Colégio, em concurso presidido pelo apresentador de TV
Flávio Cavalcanti, eu representava o então comandante general Newton
O’Relly em cerimônias oficiais do Alto Comando Militar e em seu nome
discursava.
O mundo dos botões dourados e dos
galões, das continências e das armas me é muito familiar, eu só não
podia prever que o encontraria novamente em circunstâncias muito
adversas.
Conheço o sentimento militar de
nacionalismo e o conceito de dever de defesa da pátria. Convivi com a
disciplina e o respeito pela hierarquia, pela lei e pela ordem, ou seja,
sei na pele os bons princípios que nortearam a vida militar, como
também sei na pele os maus tratos impostos por quem desonrou a farda que
vestia.
A criação e nomeação da Comissão da
Verdade pela presidenta Dilma inquietou a caserna, instigada pelos
velhinhos de pijama, viúvos da ditadura militar que em seus delírios
macartistas ainda enxergam fantasmas comunistas nas esquinas de bairros e
nas quadras de Brasília.
Que diriam esses
zumbis do obscurantismo se a sociedade voltasse a chamá-los de gorilas
como eram conhecidos na América Latina durante várias décadas? Do que
adiantaria agora satanizar todos os militares em função de uns poucos
decrépitos que insistem em negar atrocidades que eles mesmo cometeram e
portanto sabem ser verdadeiras?
Os generais
zumbis criaram em cerimônia no Clube Naval a Comissão da Verdade 2, um
pastiche da comissão nomeada pela Presidenta, com o objetivo de
“investigar” 119 alegados atos terroristas cometidos pela esquerda.
Esses zumbis tem nome, endereço e residência fixa: ex-general Renato Cesar Tibau da Costa, ex-tenente-brigadeiro-do-ar Carlos de Almeida Baptista e ex-vice-almirante Ricardo Antonio da Veiga Cabral.
Quem
tiver critério e respeito pela verdade, sabe que nunca nenhum partido
da esquerda brasileira optou pelo terrorismo como forma de luta contra a
ditadura militar, ao contrário do IRA na Irlanda, do ETA na Espanha, do
Baader-Meihonff na Alemanha, da Fatah na Palestina e vários outros.
A luta armada começou no Brasil como ato de autodefesa dos grupos perseguidos e torturados.
Quem implantou a violência foi o Estado, tendo o Exército como seu braço armado no comando das outras forças militares e civis.
O
Estado implantou o terrorismo como forma de esmagamento e intimidação
da resistência ao regime e colou nas costas da oposição a placa de
“terroristas”. E não estamos aqui falando de briga na escola quando a
professora pergunta “quem começou primeiro”. Estamos falando de prisões,
torturas e assassinatos.
O Estado começou primeiro. Não havia um único ato de violência da esquerda até 1965, um ano depois do golpe.
Agora,
o confesso torturador e ex-delegado do DOPS, Claudio Guerra revela que
queimou dez corpos de presos políticos no forno da Usina Cambahyba, no
Rio
Assista aseguir a confissão dele entre eles o corpo do meu amigo e ex-companheiro de lutas Eduardo Collier Filho.
A
mim, enquanto cidadão, a ditadura deve ainda o corpo de Sérgio Landulfo
Furtado, outro companheiro nunca encontrado. Os agentes da repressão do
Estado devem ao país 146 corpos. E vão ter que devolver. Essa é a
verdade que se busca.
E não existem duas verdades, uma civil e outra fardada.
Que
houve prisões em massa e indiscriminadas durante a ditadura, houve. Que
houve tortura e assassinato, houve. Que houve desaparecimento de
cadáveres, houve. Todo mundo sabe. Sabemos até quem foram os
responsáveis.
A Presidenta Dilma sabe perfeitamente quem a prendeu e quem a torturou e nem por isso está pedindo punição para ninguém.
O
medo que os zumbis do obscurantismo tem é que o desdobramento da
Comissão da Verdade leve a uma revisão da Anistia e que os assassinos e
torturadores sejam excluídos do perdão. Pode acontecer, mas o objetivo
da Comissão não é este e sim resgatar a triste memória do regime militar
para que isso não volte a acontecer num país pretensamente civilizado
além do que as famílias tem o legítimo direito de saber onde estão os
corpos de seus entes queridos.
Os zumbis de pijama alegam que era “uma guerra” e que, portanto, guerra é guerra, onde se supõe que vale tudo.
Primeiro,
a versão da existência de uma “guerra” é a versão dos vencedores.
Segundo, toda e qualquer guerra está sujeita à Convenção de Genebra que
proíbe, entre outras coisas, torturas e execuções. Seja qual for a
versão, o Estado, sob gerência militar, cometeu crimes hediondos
condenados por todas as sociedades do mundo. Não se pode queimar corpos
em fornos como Hitler fazia.
A Comissão da
Verdade tem dois anos para nos contar tudo o que aconteceu, tim-tim por
tim-tim. Doa a quem doer. De 1946 (fim da era Vargas) a 1988 (nova
Constituição brasileira). A sociedade brasileira não pode mais conviver
com o ensurdecedor silêncio dos mortos.
Abram-se os arquivos, contem-se a verdade, tirem-se os cadáveres dos armários do poder.
- Doação – R$ 20 mil é a indenização que a Presidenta Dilma Rousseff vai receber em junho do Governo do Rio de Janeiro por ter sido presa e torturada no Estado em 1970. O Secretário Estadual de Assistência Social, Rodrigo Neves, revelou que a Presidenta vai doar a indenização pois a questão “foi moral” para obrigar o Estado a reconhecer seus atos.
- Desculpas - O Estado do Rio vai pedir desculpas oficiais do governo às vítimas da ditadura no dia 4 de junho, às 16hs, na cerimônia pública no Estádio Caio Martins, em Niterói.
- Casadas – Aqui no Estado ao lado, no Espírito Santo, a 1ª Câmara Cívil do Tribunal de Justiça deu ganho de causa a uma mulher que vivia em união estável com uma escrivã da Polícia Civil que morreu em 2003. A briga na Justiça capixaba levou nove anos e agora a viúva passará a receber a pensão deixada pela companheira.
- Abandono – O Prefeito do Rio, Eduardo Paes, baixou dois decretos que autorizam particulares a assumirem por 50 anos a propriedade de imóveis abandonados na cidade, desde que os imóveis estejam com mais de três anos de atraso no IPTU. A licitação para 39 prédios da Prefeitura abandonados por ela mesma começa na próxima semana.
- Carusos – Assisti, feliz da vida, o espetáculo “Homenagem a Trois”, com Miéle, Chico Caruso e Rogéria no teatro do Bar do Tom, no Leblon. Um besteirol da melhor qualidade, bom humor com boa música e boa interpretação. Já os gêmeos Paulo e Chico Caruso, cartunistas e humoristas, vão se apresentar juntos em “Caricaturas Musicais”, no Teatro dos Quatro, na Gávea, nos dias 21, 22, 28 e 29 de junho. Anote aí.
- Sinfônica – A Orquestra Sinfônica Brasileira inicia no Rio, dia 26 de maio, às 16hs no Teatro Municipal, uma série de apresentações que começa com a sinfonia em si menor de Franz Schubert e termina em 19 de outubro com A Ilha dos Mortos, Opus 35, de Sergei Rachmaninov.
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