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Aliaa Magda Elmahdy
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por Rui Martins*
Berna (Suiça) - Vocês
se lembram da jovem egípcia que, em plena primavera árabe no Egito,
tirou a roupa e ficou nua em nome da liberdade ?
Veja aqui "O corpo mulher o egito".
Veja aqui "O corpo mulher o egito".
«Eu reivindico minha
liberdade sexual, o direito de não me casar, meu ateismo. As
mulheres devem poder viver sua vida como bem entendem», dizia ela.
Era dezembro, e a
primavera árabe, seguindo o calendário, estava virando
inverno, pois a revolta juvenil estava mudando de dono. Os jovens com
sua revolta, iniciada na praça Tahir, tinham derrubado Mubarak, mas
não eram eles quem iam decidir o futuro. A praça foi pouco a pouco
tomada por outros jovens, barbudos, partidários de outro tipo de
revolução – queriam o retorno aos princípios religiosos do
Profeta e que se voltasse a aplicar como lei, no Egito, a chariá.
Aliaa Magda Elmahdy
percebeu que sua foto de protesto nua, publicada no seu blog mas
distribuída por todo mundo pela imprensa, ia lhe sair caro. Mesmo os
homens jovens, que com ela protestavam na Praça Tahir, não
aprovavam seu gesto, mostrando que a intolerância penetra profundo e
que a visão machista da mulher não se podia mudar em algumas
semanas.
E mesmo as próprias
feministas egípcias condenavam o gesto da jovem Aliaa. « Ela nos dá
vergonha, disseram. Não é mostrando o sexo e os seios que vai
avançar a causa feminina ». Em síntese, mesmo para os
revolucionários e para as feministas Aliaa era uma pessoa incômoda.
Não faltava muito para deixarem os islamitas aplicarem a pena devida
a esse tipo de comportamento – a morte a pedradas ou lapidação.
Aliaa se eclipsou e se
escondeu no apartamento de seu namorado, na periferia do Cairo. Mas
mesmo ali, sua maneira livre de ser, vivendo com alguém sem ter se
casado como manda o Corão, já começavam a lhe causar problemas.
Felizmente, um grupo de
mulheres suecas convidou Aliaa para participar de uma manifestação,
em Estocolmo, dentro da Jornada Internacional da Mulher, no mês de
março. Era a única chance de escapar de um processo, tão logo
algum praticamente islamita localizasse a jovem nua das fotos.
E hoje Aliaa –
segundo reportagem exclusiva publicada pela revista semanal suíça
L´Hebdo – vive numa pequena cidade sueca, mas ainda traumatizada e
temendo ser assassinada na própria Suécia, onde vive uma enorme
comunidade islamita fundamentalista.
Nesse meio tempo, houve
o primeiro turno das eleições presidenciais no Egito pós-primavera
árabe. Dois candidatos se qualificaram para o segundo turno – o
representante dos Irmãos Muçulmanos que, embora prometa ser
moderado, irá instaurar a lei corânica da chariá; e um
sobrevivente do regime de Mubarak.
Nas duas hipóteses, a
primavera árabe foi usurpada e seus participantes não terão parte
na reconstrução do Egito. E o mais provável é o Egito sair do
regime laico para se tornar mais uma república teocrática islamita.
As grandes perdedoras
serão as mulheres que voltarão a ser propriedade de seus pais e
maridos, obrigadas a usar o véu, cobrindo a cabeça e parte do rosto
ou, no caso, de ascensão dos fundamentalistas, será a burca, a
touca que cobre toda a cabeça, deixando apenas os orifícios para os
olhos e a respiração.
O panarabismo, laico e
mesmo socialista, está longe. A união dos árabes vem sendo feita
pelos religiosos do islamismo integrista que exigem o retorno às
regras literais do Corão, um rígido código moral que, repetindo a
Idade Média cristã, também enquadra, limita e dita suas leis à
ciência.
Tudo começou quando
Bush destruiu o Iraque laico, cujo ditador Saddam Hussein servia de
muralha ao avanço do islamismo fundamentalista. A queda de outro
ditador, Kadafi, na Líbia, rompeu a muralha erguida no Magreb. Duas
guerras dignas de aprendizes de feiticeiros que abriram a Caixa de
Pandora.
Difícil agora de
prever o futuro.
Rui Martins* -
Jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a
ditadura, é líder emigrante, ex-membro eleito no primeiro conselho
de emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos
Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça.
Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência
BrPress.
Enviado por Direto daRedação
http://www.diretodaredacao.com/noticia/jovem-nua-se-refugia-na-suecia
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