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Sanguessugado do redecastorphoto
Pepe Escobar, Asia Times Online – THE ROVING EYE
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Hoje, o hino diz mais ou menos o seguinte: “Baby, você não quer / voltar àquele antigo lugar / doce lar [cinturão de aço], Chicago?”. [1]
Robert Johnson deve estar cuspindo fogo em seu túmulo bluezado,
porque a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em sua 25ª
conferência, ocupa hoje Chicago como se fosse Kabul – com os
norte-americanos tratados como se fossem círculos concêntricos de
Talibãs. O Departamento de Segurança Nacional classificou o evento como
“Evento de Segurança Nacional Especial”; significa que o Serviço
Secreto, na prática, invadiu e ocupou Chicago.
É
cerco, sítio. Sítio total, completo – com barreiras de concreto estilo
Iraque; batalhões inteiros, em uniforme de contenção de tumultos
urbanos; equipes “de extração”, para localizar, deter e arrastar
manifestantes, em ambiente de “conflito de baixa intensidade”; e um
convidado-estrela, orwelliano, o LRAD (Long-Range Acoustic Device /
equipamento acústico de longo alcance) – um canhão de som projetado
para “garantir que mensagem clara chegue a grandes massas”, segundo o
Departamento de Polícia de Chicago.
Soa como remake pirado do imortal Os Irmãos Cara de Pau (The Blues Brothers, 1980) de John Landis. E que papel, diabos, desempenhará o presidente dos EUA, Barack Obama? O Poderoso Chefão dos drones? Aretha Franklin cantando Think [2]? Ou o pai&mãe do soul, James Brown comandando o coro gospel de “ver a luz” [3]?
Obama, afinal de contas, está em Missão Divina – é o mestre de
cerimônias da militarização de Chicago, imagem especular da
militarização do planeta, pela OTAN.
Quanto às multidões de norte-americanos que se recusam a deixar-se ocupar pela OTAN, ou que decidiram transformar o Occupy Chicago em Occupy a OTAN, o suplício das multidões soa mais como Albert King: “Nasci sob um signo ruim / estou por baixo desde que comecei a engatinhar / não fosse a má sorte / não teria sorte alguma”. [4]
De caso com a Máfia [5]
A conferência de cúpula da OTAN em Chicago é essencialmente uma celebração do “Conceito Estratégico”[6]adotado
na conferência de Lisboa, em novembro de 2010 – que é uma espécie de
versão mais palatável da doutrina de “dominação de pleno espectro” do
Pentágono.
Prova crucial disso, mês passado, em
convescote do Pentágono/OTAN em Norfolk, Virginia, a secretária de
Estado dos EUS, Hillary Clinton [7] salientou que a conferência
de Chicago será “o reconhecimento das contribuições operacionais,
financeiras e políticas de nossos parceiros, num gama de esforços para
defender nossos valores comuns nos Bálcãs, Afeganistão, Oriente Médio e
Norte da África.”
E fica-se a cogitar, que diabo
de “valores comuns” estariam incorporados num combate às cegas contra o
fantasma de uma “al-Qaeda” no Afeganistão – que nada tem sido além de
repetidos ponta-pés no traseiro da OTAN, durante 11 intermináveis anos,
aplicado sempre por hordas de nacionalistas pashtuns enfurecidos e
armados com Kalashnikovs e lança-rojões.
E que diabo de “valores comuns” estão incorporados no bombardeio “humanitário” contra a Líbia pelo combo OTAN/AFRICOM
– se o produto final, uma Líbia controlada por “rebeldes” da OTAN, é
hoje um inferno de milícias islamistas racistas hardcore, já exportado atualmente para países vizinhos, como o Mali?
Isso,
para nem dizer que a OTAN recusa-se obcecadamente a reconhecer que
assassinou legiões de civis na Líbia, como parte de sua missão de R2P (responsabilidade de proteger)... civis.
Ah, sim! Em matéria de “parceiros” da OTAN, as coisas são doces feito baba-de-moça.
Ser
convertido em “parceiro” da OTAN, sobretudo para os países menores, não
é muito diferente de ser obrigada a casar com toda a gangue.
Aplicam-se
as mais sofisticadas técnicas de extorsão. Por que não se alia à nossa
coalizão [a da hora] pela liberdade? Por que não contribui com alguns
soldados? Por que não compra algumas doces armas para nós? Ou seja lá o
diabo que for...
Você sabe o que é amar um avião-robô, um drone?
A própria OTAN diz que Chicago [8] discutirá três principais tópicos:
O
“envolvimento no Afeganistão”. Tradução: ocupar para sempre, pelo menos
com três grandes bases (Bagram, Shindand e Kandahar), mas temos de
encontrar um jeito de dourar a pílula. Depois, temos de fazer aqueles
“-stões” da Ásia Central nos darem mais bases.
As
“capacidades” para “defender população e território afegãos” – como
defendem a América do Norte e a Europa mediante bombardeio e/ou ocupação
de partes da Ásia Central ou da África. Tudo isso reunido num ramalhete
que leva o nome de “desafios para o século 21”.
A “rede de parceiros da OTAN pelo planeta”.
O emaranhado das parcerias da OTAN é das mais bem-sucedidas distribuições de caixas vazias de bombons da história.
Dentre
as tais “parcerias” há: a Parceria pela Paz; pelo Diálogo Mediterrâneo;
a Iniciativa Istambul de Cooperação; a Força Kosovo; a Operação Escudo
Oceânico (no Chifre da África); a Operação Protetor Unificado (na
Líbia); a Operação Missão Ativa (no Mediterrâneo); a Países Fornecedores
de Tropas no Afeganistão, “parceria” na qual se reúnem nações do
Pacífico Asiático, Malásia, Mongólia, Cingapura, Coreia do Sul e Tonga; e
a monstruosa Parceria de Cooperação Menu (com mais de 1.600 pratos e
guarnições). [9]
Há também o Conselho Rússia-OTAN [ing. Russian-NATO Council (RNC)];
e jamais houve parceria mais rachada em toda a humanidade, sobretudo
por causa da obsessão dos EUA com o escudo de mísseis de defesa.
O
untuoso, pegajoso, arrogante, dissimulado, bajulador secretário-geral
da OTAN, Dane Anders Fogh Rasmussen, já disse que, em Chicago, a OTAN
anunciará “capacidade operacional inicial” para o sistema interceptador
conjunto de mísseis EUA-OTAN na Europa. Tradução: fenomenal negócio para
as empresas Boeing, Lockheed Martin e Raytheon.
A
OTAN fala dele como um “sistema de defesa” da OTAN para a Europa,
contra mísseis balísticos intercontinentais da Coreia do Norte ou do
Irã. É absoluto non sense. Esse “sistema de defesa” será
integrado à capacidade do Pentágono para “atacar primeiro”. A
inteligência russa sabe muito bem quem está previsto como alvo real.
Não surpreende que a Rússia esteja ausente do convescote em Chicago. Também está ausente a China. E o Irã.
O
Paquistão – atraído por quantidade não revelada de cenouras de metal
polido – lá está, chegado no último instante. Nada detém a OTAN. Há
movimento interno para que se invente algum tipo de parceria com os
BRICS, grupo das potências emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul) –, tudo em nome da “segurança em nível global”. Os BRICS
não estão interessados.
O Iraque “libertado”
será inevitavelmente anexado à Iniciativa Istambul de Cooperação. A
Líbia “libertada” será inserida no Diálogo Mediterrâneo. O mesmo
acontecerá à Síria (desde que a Iniciativa Divina consiga mudança de
regime). O Irã “do Mal”, por sua vez, será sempre excluído. A menos que
uma Missão Super Divina consiga, lá, mudança de regime.
Em termos da OTANlíngua,
essa parceira só-entra-com-convite explica-se pela necessidade de
“melhorar a interoperabilidade”, parte do plano geral para construir
“uma teia de relacionamentos em torno do mundo.” É o Conceito
Estratégico de Lisboa 2010 em prática: a OTAN-Globocop expandindo-se – literalmente – até as estrelas.
Chicago, portanto, é só um teste – estágio avançado de produção, comparado a Gaza ou Sadr City em Bagdá, ou ao que a RAND Corporation chamava de Operação Militar em Terreno Urbano [ing. MOUT (Military Operations in Urban Terrain)]. A OTAN, afinal, viu o futuro – e está imergindo, corpo e alma, na “guerra dos aviões-robôs, os drones”.
Se você não pode derrotá-los no Pashtunistão, você, pelo menos, pode encurralá-los na terra do blues.
Acordei de manhã / e encontrei minha menina, dronada [10].
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