Por Redação
O
Mercado Popular de Alimentos foi impedido de comercializar produtos
oriundos da agricultura camponesa pelo Ministério da Agricultura,
Agropecuária e Abastecimento (MAPA) na manhã desta quinta-feira (24/05),
em São Gabriel da Palha-ES.
Foram esvaziadas bancas e congeladores, e os produtos foram lacrados e
armazenados no depósito do mercado. Os técnicos levaram amostras para a
realização de uma análise da qualidade sanitária dos alimentos. Cerca
de 30 litros de cachaça, 20 litros de vinho de jabuticaba e 200 kg de
poupa de frutas foram impossibilitados de serem vendidos pelos
camponeses.
O mercado, que está em funcionamento desde novembro do ano passado,
vem oferecendo à população mais de 350 tipos de produtos diversificados
provenientes de 100 famílias camponesas de cinco municípios da região.
Os alimentos são produzidos com base na transição à agroecologia, com
respeito à saúde de quem produz, quem consome e ao meio ambiente.
De acordo com os técnicos do MAPA os alimentos não estavam sendo
comercializados de acordo com as exigências legais e que era necessário
impedir a venda dos produtos para prevenir “riscos à saúde dos
consumidores”.
De acordo com Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) os alimentos
comercializados pelo Mercado Popular são baseados em conhecimentos
tradicionais, ligados à cultura camponesa, à produção comunitária e
colaborativa. Para o MPA as regras impostas pela legislação sanitária
não são adequadas à realidade e à cultura camponesa, e deslegitima
saberes e práticas construídas historicamente pelas comunidades rurais.
“Porque
nós camponeses não atendemos as regras que eles impõem? Justamente
porque elas impedem a produção artesanal, exigem estruturas e produção
em escala, rompem com a lógica camponesa”, analisou Clóvis Conte,
integrante do MPA de São Gabriel da Palha. O camponês é referência em
produção de alimentos agroecológicos na região.
Segundo Clóvis o que se alega como sanidade dos alimentos é na
verdade uma questão de barreira de mercado. “Há inúmeros escândalos como
a soda cáustica usada no leite, as adulterações nas bebidas alcoólicas,
a contaminação de vários alimentos por uso de agrotóxicos, os
transgênicos e muitas outras coisas que inviabilizariam o consumo
humano” questionou a dirigente, ao defender que por trás do falso
discurso higienista, grandes corporações transnacionais lucram com o
modelo químico de produção e as doenças dele decorrentes, pois são as
mesmas empresas que produzem a doença e a saúde.
Clóvis ainda questiona o discurso contraditório exercido pelo governo
federal que diz querer erradicar a miséria e fortalecer a agricultura
camponesa, ao mesmo tempo em que prende alimentos produzidos pelo
campesinato. Para ele, a questão colocada não é alimentar o povo e
gerar renda
para as famílias camponesas, mas favorecer o agronegócio e dar lucro
para as multinacionais. “A ordem é dar lucro às grandes empresas, a
ordem não é dinamizar a economia local, é transferir renda da população
local para os grandes centros”, enfatizou.
Para Roseli Souza,mais conhecida como Rose, integrante da direção
nacional do MPA, os alimentos produzidos pelos camponeses e camponesas
representam um enfrentamento ao mercado. “Quando os consumidores
comparam a qualidade destes produtos com os das gôndolas dos
supermercados, eles decidem pelo produto camponês. Isso é uma ameaça à
ordem, pois estabelece uma relação direta entre camponeses e
consumidores. Em ampla escala, essa experiência comprometerá o lucro das
grandes redes varejistas, e apesar da nossa iniciativa com o mercado
ainda ser pequena, ela aponta para uma ampla gama de possibilidades”,
vislumbrou.
De acordo com Rose, o MPA vem trabalhando na construção de processos
de acreditação e de certificação mútua, entre produtores e consumidores,
estabelecendo uma relação de confiança entre ambas as partes, que
extrapolam os padrões impostos pela legislação sanitária. Para ele, o
estado precisa reconhecer e legitimar essa condição.
“Para isso haverá embates, mobilizações e enfrentamentos. Não
queremos impor nosso modelo, queremos dialogar com a sociedade e
apresentar alternativas ao que está estabelecido. É a população que tem
que decidir por entre um produto legalizado, cheio de veneno,
transgênico, contaminado, cancerígeno ou, um produto camponês,
artesanal, produzidos em bases agroecológicas, que não põe em risco a
saúde de quem se alimenta, que não desrespeita o meio ambiente, e que
por isso, é perseguido pelo sistema. Contamos com o envolvimento da
sociedade na busca por alimentos saudáveis”, apostou.
(*) Matéria reproduzida da página do Movimento dos Pequenos Agricultures (MPA).
4 comentários:
Aqui na minha cidade tem a feira de pequeno produtor. Funciona na UFCG nas quartas feiras e na Estação Velha, na sexta feira ela atende no Parque do Povo. Nesta feira é proibido a venda de hortaliças, frutos, verduras e artigos granjeiro
vinda da CEASA.
Apenas para o pequeno produtor.
Beijos!
Janice, o sistema de controle e fiscalização funciona em determinados lugares quando tem um uma pedra no caminho de alguém com algum poder. Serve pra muitos interesses.
Abraços
Esse é mais um absurdo inexplicável é de ficar estarrecido com tamanha preocupação do MAPA que diligentemente privou essas pessoas de terem a livre escolha do que consumir. Com tantas irregularidades na alimentação que é vendida pelas grandes redes eles tem esse tipo preciosismo com os produtos do mercado popular.
Tibiriçá. Esta aberração tem logica diante das aberrações maiores dos que representam o poder.
Abraços
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