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Código Florestal e os interesses dos especuladores do agribusiness. Entrevista especial com Francisco Milanez
“Quem está promovendo a alteração do Código Florestal
são os especuladores rurais do agribusiness, que desobedeceram a Lei e
praticaram crimes ambientais de todos os tipos, em particular, o
desmatamento”, diz o ambientalista.
Com a justificativa de que era necessário alterar o Código Florestal para favorecer os pequenos agricultores, “os especuladores rurais do agribusiness” aprovaram um texto substitutivo que prejudicará não só o meio ambiente, mas também a agricultura. “A aprovação do novo texto é um movimento para intensificar a exportação de grão, é um disfarce para exportar fertilidade e água”, assinala Francisco Milanez em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone. Segundo ele, o texto aprovado pela Câmara dos Deputados comete vários equívocos ambientais que acentuarão ainda mais os efeitos das mudanças climáticas. Entre eles, destaca a redução das Áreas de Preservação Permanente – APPs. “O clima já está desregulado e a tendência é que as secas e as chuvas sejam mais frequentes e intensas. As manifestações climáticas irão se inverter, e teremos chuvas de pedra no verão com mais frequência, calorão durante o inverno, e quando começar a brotação das culturas agrícolas irá esfriar e queimar a produção”. A diminuição das APPs também causará impactos na agricultura, porque são elas as responsáveis pela proteção e a recarga dos mananciais.
Para Milanez, um referendo é a única maneira de barrar a aprovação do novo Código Florestal. “Não podemos deixar que os grupos econômicos controlem o país. O plebiscito é a única forma de fazer frente a modificações estruturais. Se houvesse um referendo e a população votasse a favor do Código, pelo menos perderíamos por conta da burrice nacional e não por causa da corrupção, como acontece hoje”, afirma.
Francisco Milanez (foto) é educador ambiental, arquiteto, biólogo e membro da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – Agapan e da Fundação para o Desenvolvimento Ecologicamente Sustentado – Ecofund.
Confira a entrevista.
Com a justificativa de que era necessário alterar o Código Florestal para favorecer os pequenos agricultores, “os especuladores rurais do agribusiness” aprovaram um texto substitutivo que prejudicará não só o meio ambiente, mas também a agricultura. “A aprovação do novo texto é um movimento para intensificar a exportação de grão, é um disfarce para exportar fertilidade e água”, assinala Francisco Milanez em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone. Segundo ele, o texto aprovado pela Câmara dos Deputados comete vários equívocos ambientais que acentuarão ainda mais os efeitos das mudanças climáticas. Entre eles, destaca a redução das Áreas de Preservação Permanente – APPs. “O clima já está desregulado e a tendência é que as secas e as chuvas sejam mais frequentes e intensas. As manifestações climáticas irão se inverter, e teremos chuvas de pedra no verão com mais frequência, calorão durante o inverno, e quando começar a brotação das culturas agrícolas irá esfriar e queimar a produção”. A diminuição das APPs também causará impactos na agricultura, porque são elas as responsáveis pela proteção e a recarga dos mananciais.
Para Milanez, um referendo é a única maneira de barrar a aprovação do novo Código Florestal. “Não podemos deixar que os grupos econômicos controlem o país. O plebiscito é a única forma de fazer frente a modificações estruturais. Se houvesse um referendo e a população votasse a favor do Código, pelo menos perderíamos por conta da burrice nacional e não por causa da corrupção, como acontece hoje”, afirma.
Francisco Milanez (foto) é educador ambiental, arquiteto, biólogo e membro da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – Agapan e da Fundação para o Desenvolvimento Ecologicamente Sustentado – Ecofund.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O que a aprovação do novo texto do Código Florestal representa em termos ambientais? Qual é o ponto mais polêmico do texto?
Francisco Milanez – Em termos
ambientais, representa a maior aberração que já assisti na minha vida de
ambientalista, porque, com todas as discussões acerca das mudanças
climáticas, podemos entrar em uma crise profunda, talvez sem volta. O
Brasil está andando na contramão do planeta e diminuindo bruscamente as Áreas de Preservação Permanente – APPs.
A redução de áreas florestais é um equívoco, porque são as florestas que regulam o clima. O clima já está desregulado e a tendência é que as secas e as chuvas sejam mais frequentes e intensas.
As manifestações climáticas irão se inverter, e teremos chuvas de pedra
no verão com mais frequência, calorão durante o inverno, e quando
começar a brotação das culturas agrícolas irá esfriar e queimar a
produção. Para a agricultura, os efeitos da diminuição de APPs serão
terríveis.
Outro impacto previsto para a agricultura diz respeito à falta de
água, pois são justamente as APPs que protegem e fazem a recarga dos
mananciais. Então, estão pondo em risco as bacias hidrográficas.
IHU On-Line – É um texto que privilegia a produção agrícola?
Francisco Milanez – Pelo contrário, é um texto que
destrói a produção agrícola, privilegiando os especuladores rurais. Por
isso os mais prejudicados serão os agricultores. Quem está promovendo a
alteração do Código Florestal são os especuladores rurais do agribusiness,
que desobedeceram a Lei e praticaram crimes ambientais de todos os
tipos, em particular, o desmatamento. Agora, na hora de cumprirem as
suas penas e pagarem as multas, mudam a Lei. Os agricultores, muito
alienados, não estão se dando conta do quanto serão prejudicados com a
nova legislação.
IHU On-Line – Como o novo texto do Código Florestal trata os grandes e pequenos produtores?
Francisco Milanez – Os especuladores se utilizaram
dos pequenos produtores para aprovar o novo texto. Eles alegavam que
algumas propriedades rurais pequenas eram inviabilizadas pelo código
vigente. Ora, se essas propriedades são inviabilizadas pela Lei, basta
encaminhar um processo e pedir que o governo desaproprie essas terras,
pois se o governo cria uma legislação que não permite ao agricultor
produzir e viver da sua produção, ele tem de desapropriar a terra e
oferecer outra.
Nós, ambientalistas, não queremos inviabilizar a pequena agricultura, porque é ela que sustenta 70% da alimentação brasileira e que ocupa grande parte da mão de obra rural. Mas o novo texto derruba a agricultura familiar ao determinar quatro módulos rurais.
Nós, ambientalistas, não queremos inviabilizar a pequena agricultura, porque é ela que sustenta 70% da alimentação brasileira e que ocupa grande parte da mão de obra rural. Mas o novo texto derruba a agricultura familiar ao determinar quatro módulos rurais.
A aprovação do novo texto
é um movimento para intensificar a exportação de grão. Trata-se de um
disfarce para exportar fertilidade e água. O que o Brasil faz quando
exporta a soja é exportar fertilidade e água para alimentar gado
europeu: 40% da exportação de grãos brasileiros é utilizada para a ração
de animais, e não para abater a fome no mundo, como dizem os defensores
do novo Código Florestal.
IHU On-Line – O novo texto viola a legislação ambiental vigente?
IHU On-Line – O novo texto viola a legislação ambiental vigente?
Francisco Milanez – Viola a Constituição, porque vai haver uma destruição ambiental bárbara. Se for aprovado, o novo Código irá violar Tratados Internacionais, como a Convenção de Clima, que o Brasil assinou. Em plena Rio+20, o país vai passar a maior vergonha da história da humanidade.
IHU On-Line – Quais são as principais mudanças entre o Código Florestal vigente e o texto aprovado na Câmara dos Deputados em relação às APPs e às Áreas Reserva Legal?
IHU On-Line – Quais são as principais mudanças entre o Código Florestal vigente e o texto aprovado na Câmara dos Deputados em relação às APPs e às Áreas Reserva Legal?
Francisco Milanez – De acordo com o novo texto, as Áreas de Reserva Legal podem se sobrepor às APPs, o que não acontece na legislação vigente. Com essa mudança elas irão diminuir, o que causa perdas de área de preservação.
Outro problema grave é a anistia das áreas destruídas até 2008. Quero
ver como vão provar se a terra foi destruída antes ou depois de 2008. Muitos proprietários de terra desmataram no ano passado para dizer que sua área é consolidada. A mensagem do Código Florestal é: “Desrespeite a lei e depois conversamos”.
Outra questão diz respeito às Áreas de Inclinação, que permitem usos
maiores das áreas de preservação permanente por declividade. Isso é um
absurdo, pois num solo plano já se perde toneladas de hectares do solo;
num solo inclinado, se perde o solo todo. É um equívoco voltar atrás e
permitir atividades em áreas de 30% de inclinação.
A mudança climática está acelerada. Nosso planeta está aquecendo e o
clima está sendo todo desregulado. Por isso seria fundamental aumentar
as APPs para garantir a regulação climática e incentivar a agricultura.
Entretanto, os defensores do Código Florestal dizem que, para aumentar a produtividade, é preciso aumentar a área plantada. Quem não sabe aumentar a produtividade, faz isso.
IHU On-Line – Entre as mudanças, foi derrubada a obrigatoriedade de recompor 30 metros de mata em torno de olhos nascentes de água nas APPs. Quais os impactos disso para as nascentes dos rios?
IHU On-Line – Entre as mudanças, foi derrubada a obrigatoriedade de recompor 30 metros de mata em torno de olhos nascentes de água nas APPs. Quais os impactos disso para as nascentes dos rios?
Francisco Milanez – A diminuição das matas ciliares é
um equívoco, pois elas preservam os rios e as nascentes, evitando a
erosão. Quanto maior for a mata ciliar, mais protegido está o rio. Ao
diminuir a mata ciliar, estaria desprotegendo também os banhados e
permitindo que as pessoas plantem nessas áreas. O que vai acontecer?
Problema de produção e enchentes, porque os rios não serão mais
amortizados e o nível da água subirá muito mais rapidamente.
IHU On-Line – De acordo com o novo texto, as APPs passarão a ser determinadas pelos planos diretores e leis municipais de desocupação do solo. Como vê essa mudança?
IHU On-Line – De acordo com o novo texto, as APPs passarão a ser determinadas pelos planos diretores e leis municipais de desocupação do solo. Como vê essa mudança?
Francisco Milanez – Isso é a pior coisa que existe. Quando eu trabalhei na Fundação Estadual de Proteção Ambiental – Fepam anos atrás, vários prefeitos me telefonavam pedindo sigilo e denunciando crimes ambientais. Eles não tinham e não têm poder nenhum contra um empresário local.
Deixar o município responsável pela preservação ambiental é a mesma
coisa que dizer: “joga a política ambiental no lixo”. A Federação existe
justamente porque os estados não têm poder para definir algumas
questões. O Rio Grande do Sul, que é um estado um pouco mais maduro, não consegue manter uma política ambiental eficiente, imagine os outros.
Quando quiseram permitir a expansão da silvicultura no Rio Grande do Sul, escolheram uma pessoa que a aprovaria para dirigir o órgão ambiental. Então, é assim. Esse é o Rio Grande do Sul, o estado mais ambiental do Brasil.
IHU On-Line – Que temas fundamentais não foram abordados no texto aprovado na Câmara?
Quando quiseram permitir a expansão da silvicultura no Rio Grande do Sul, escolheram uma pessoa que a aprovaria para dirigir o órgão ambiental. Então, é assim. Esse é o Rio Grande do Sul, o estado mais ambiental do Brasil.
IHU On-Line – Que temas fundamentais não foram abordados no texto aprovado na Câmara?
Francisco Milanez – Vários temas ficaram de fora e
não foram avaliados. Infelizmente muitos cientistas ganham dinheiro para
dar depoimentos favoráveis ao novo texto. Parte da academia está
comercializada, por isso escutam somente os que têm interesse econômico. Tudo é feito em nome da ciência porque não existe mais ética, não existe mais cultura.
IHU On-Line – Qual a expectativa em relação à decisão da presidente de vetar ou sancionar o Código Florestal?
IHU On-Line – Qual a expectativa em relação à decisão da presidente de vetar ou sancionar o Código Florestal?
Francisco Milanez – A minha expectativa é de que ela
vete tudo, que cumpra a sua palavra, embora os deputados possam
derrubar o veto. De qualquer forma, ela cumpriria a sua palavra e se
posicionaria ao lado da população brasileira.
IHU On-Line – A melhor opção seria realizar um referendo popular para decidir a aprovação ou não do novo texto?
IHU On-Line – A melhor opção seria realizar um referendo popular para decidir a aprovação ou não do novo texto?
Francisco Milanez – Claro. E vou dizer mais: não há outra forma. Do jeito que o poder econômico está se aglomerando, somente um referendo pode impedir essa legislação.
Não podemos deixar que os grupos econômicos controlem o país. O
plebiscito é a única forma de fazer frente a modificações estruturais.
Se houvesse um referendo e a população votasse a favor do Código, pelo
menos perderíamos por conta da burrice nacional, e não por causa da
corrupção, como acontece hoje.
2 comentários:
Um referendo popular para aprovar, ou a criação de um outro. Não TV eles falam de tal maneira que fica tudo muito confuso. Muita gente não está entendendo nada.
Beijos!
Janice, não vejo TV faz tempo, acredito no que diz, e pergunto: Faz alguma diferença? Eles defendem seus interesses e não as necessidades do povo.
Pelo menos é o que vejo.
Beiijos também
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