- por Gustavo Moreira
A rápida expansão do acesso ao computador entre os
brasileiros, que resultou, nos últimos anos, na formação de uma provável
maioria de internautas, deu margem a diversos fenômenos curiosos. Um
deles foi a proliferação dos sites geridos por uma extrema direita
raivosa, que adicionou à velha pizza macarthista, requentada sem muita
imaginação, incontinência verbal e bizarras teorias da conspiração.
Alguns de seus líderes, posando de perseguidos por "minorias
totalitárias", foram viver no exterior, de onde remetem seus libelos.
Não raro, utilizam como argumento de autoridade uma duvidosa experiência
na esquerda militante, com a qual teriam se desiludido ainda na
juventude.
Embora, em regra, não tenha qualquer expressão
eleitoral, esta direita aberrante reivindica o papel de autêntica
defensora do conservadorismo no Brasil. Os partidos direitistas
tradicionais, como o DEM e o PP, são qualificados como clubes de
centristas mercenários, reféns do estatismo. Os elitistas tucanos
recebem com frequência o rótulo de comunistas moderados. Segundo a
delirante tese da "estratégia das tesouras", PSDB e PT, alternando-se no
poder, cumprem uma agenda perversa, cujos objetivos seriam conduzir o
debate político cada vez mais para a esquerda, destruir os valores
familiares, sufocar as resistências conservadoras e abrir caminho para
uma "nova ordem" comunista.
Não me proponho a desconstruir o pensamento desta
corrente. Assumiria o risco de cair na caricatura, como um enfermeiro
de sanatório tentando convencer o louco de que ele não é Napoleão.
Porém, tendo em vista o inegável fato de que os neomacarthistas
conseguem seduzir, além de antigos órfãos da ditadura militar, muitos
jovens que pendem para o fundamentalismo religioso ou para o fascismo,
sinto-me instigado a exibir um pouco de suas facetas mais caricatas.
Divirtam-se ou indignem-se, conforme sua índole, humor e percepção da
realidade.
Reinaldo Azevedo, diante das estatizações
ocorridas na Bolívia, volta sua ira contra Evo Morales, para ele um
falso índio!
O cineasta Ipojuca Pontes crê que Karl Marx era uma espécie de apóstolo do Diabo.
Diogo Mainardi, em sua obsessão por Lula, produz uma crônica grotesca, com direito a racismo mal disfarçado e profecia ruim.
Félix Maier, sentindo-se um pária pela
condição de teuto-brasileiro, compõe sua poesia de pé quebrado, que
inclui reprise do besteirol de Luiz Mott sobre a "homossexualidade de
Zumbi".
Para Olavo de Carvalho, a pérfida coalizão entre
comunistas, muçulmanos e adeptos do governo mundial colocou um
estrangeiro na presidência dos Estados Unidos:
Segundo Graça Salgueiro, o Brasil jaz nas mãos do Foro de São Paulo. Em Pernambuco, particularmente, o comunismo é uma unanimidade!
Sua xará do blog Graça no País das Maravilhas
denuncia o controle dos "esquerdopatas" sobre a massa de eleitores
semi-analfabetos, e mostra erudição escrevendo traseiros com Z.
Para Jair Bolsonaro, o único do gênero que tem votos, o índio autêntico é um comedor de capim.
Caso acreditemos no pastor Julio Severo, os
"brasileiros comuns" estão prestes a cair sob o jugo do nazismo gay, que
já instrumentaliza o Ministério Público contra os heterossexuais.
Pelo menos num ponto, os neomacarthistas se mostram lúcidos: a constatação de que, por mais que esperneiem, nunca constituirão uma alternativa de poder. Nada preciso acrescentar para revelar os motivos.
2 comentários:
Obrigado mais uma vez por prestigiar. "Eles" não nos deixam alternativas, a não ser continuar.
Obrigado a você Gustavo, por compartilhar um belissimo texto texto.
Abraços
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