buscado no Boilerdo
de Paulo Nogueira
Cícero
Envelhecer
é um pesadelo para as pessoas. Há uma luta inútil e muitas vezes
patética pela juventude eterna. E uma indústria prospera por trás dessa
batalha: dos cirurgiões plásticos aos fabricantes de tintura para
cabelos. Um medicamento afirma poder devolver a potência da juventude a
homens de meia idade ou anciões, outro promete deter a queda dos cabelos
e até restabelecer franjas que o tempo levou. A mídia,
compreensivelmente, uma vez que o tema é campeão de audiência, dá um
amplo espaço aos vendedores de juventude. Basicamente, o que explica
tudo isso é a angústia que nos toma quando percebemos que não somos tão
jovens assim. Temos uma opinião negativa da velhice. Daí a origem da
nossa aflição, que não é um assunto novo.
Desde
sempre a humanidade se deixou atormentar por esse fantasma. Muitos
filósofos se detiveram sobre o tema e se esforçaram para nos ajudar a
lidar melhor com a passagem do tempo. Um deles foi Marco Túlio Cícero
(106 – 43 a.c.), estadista e pensador romano que se transformou no
símbolo supremo da oratória. Em sua obra Saber Envelhecer (L&PM),
Cícero enumera as vantagens desprezadas da velhice. Na dedicatória, ele
diz: “Senti tal prazer em escrever que esqueci dos inconvenientes dessa
idade; mais ainda, a velhice me pareceu repetidamente doce e
harmoniosa”.
Cícero comenta um fato
incontestável: “Todos os homens desejam avançar a velhice, mas ao
ficarem velhos se lamentam. Eis aí a conseqüência da estupidez”. Depois
ele toca em outro ponto crucial, que vale para tudo na vida: uma vez que
somos submetidos a obstáculos e desafios, e que a sorte instável ora
nos ergue e ora nos derruba, o que muda mesmo é a maneira com que cada
um de nós lida com sua cota de agruras. Um mesmo aborrecimento é leve
para uns e insuportável para outro. Afirma Cícero: “Os velhos
inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a idade, ao
passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são
deploráveis em qualquer idade”.
Cícero é mordaz e
divertido. Quando toca na questão da alardeada perda de memória dos
anciões, ele contrapõe: “A memória declina se não a cultivarmos ou se
carecemos de vivacidade de espírito. Os velhos sempre se lembram daquilo
que interessa: promessas, identidade dos seus credores e devedores,
etc”. Permanecer intelectualmente ativo é uma forte recomendação dele.
Cícero lembra que Sófocles em idade avançada ainda escrevia suas
tragédias. No fim da vida, Sócrates aprendeu a tocar lira. Catão, na
velhice, descobriu a literatura grega. “Acaso os adolescentes deveriam
lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a adolescência? A
vida segue um curso preciso e a natureza dota cada idade de suas
qualidades próprias. Por isso, a fraqueza das crianças, o ímpeto dos
jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas
naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo.”
Ler Cícero vale muito mais que qualquer botox.
4 comentários:
As mulheres principalmente é que morrem de medo de ficarem velhas.
Curiosidades, não acho que são as mulheres. elas tem muito mais fibra pra tudo, pra velhice também.
Os homens sim, morrem de medo antes de envelhecer.
Um grande abraço
Eu não tenho medo da velhice, sei que por mais que se prepare para receber a velhice, ela vem trazendo doenças, e outras coisas que atrapalha. É muito ruim. Mais fico feliz em poder envelhecer.
Beijos!
Janice, as mulheres não mentem ou bem menos que os homens.
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