segunda-feira, 21 de maio de 2012

A arte de envelhecer segundo Cícero

buscado no Boilerdo 

 

de Paulo Nogueira
 
Cícero
 
Envelhecer é um pesadelo para as pessoas. Há uma luta inútil e muitas vezes patética pela juventude eterna. E uma indústria prospera por trás dessa batalha: dos cirurgiões plásticos aos fabricantes de tintura para cabelos. Um medicamento afirma poder devolver a potência da juventude a homens de meia idade ou anciões, outro promete deter a queda dos cabelos e até restabelecer franjas que o tempo levou. A mídia, compreensivelmente, uma vez que o tema é campeão de audiência, dá um amplo espaço aos vendedores de juventude. Basicamente, o que explica tudo isso é a angústia que nos toma quando percebemos que não somos tão jovens assim. Temos uma opinião negativa da velhice. Daí a origem da nossa aflição, que não é um assunto novo.
Desde sempre a humanidade se deixou atormentar por esse fantasma. Muitos filósofos se detiveram sobre o tema e se esforçaram para nos ajudar a lidar melhor com a passagem do tempo. Um deles foi Marco Túlio Cícero (106 – 43 a.c.), estadista e pensador romano que se transformou no símbolo supremo da oratória. Em sua obra Saber Envelhecer (L&PM), Cícero enumera as vantagens desprezadas da velhice. Na dedicatória, ele diz: “Senti tal prazer em escrever que esqueci dos inconvenientes dessa idade; mais ainda, a velhice me pareceu repetidamente doce e harmoniosa”.
Cícero comenta um fato incontestável: “Todos os homens desejam avançar a velhice, mas ao ficarem velhos se lamentam. Eis aí a conseqüência da estupidez”. Depois ele toca em outro ponto crucial, que vale para tudo na vida: uma vez que somos submetidos a obstáculos e desafios, e que a sorte instável ora nos ergue e ora nos derruba, o que muda mesmo é a maneira com que cada um de nós lida com sua cota de agruras. Um mesmo aborrecimento é leve para uns e insuportável para outro. Afirma Cícero: “Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a idade, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade”.
Cícero é mordaz e divertido. Quando toca na questão da alardeada perda de memória dos anciões, ele contrapõe: “A memória declina se não a cultivarmos ou se carecemos de vivacidade de espírito. Os velhos sempre se lembram daquilo que interessa: promessas, identidade dos seus credores e devedores, etc”. Permanecer intelectualmente ativo é uma forte recomendação dele. Cícero lembra que Sófocles em idade avançada ainda escrevia suas tragédias. No fim da vida, Sócrates aprendeu a tocar lira. Catão, na velhice, descobriu a literatura grega. “Acaso os adolescentes deveriam lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a adolescência? A vida segue um curso preciso e a natureza dota cada idade de suas qualidades próprias. Por isso, a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo.”
 
Ler Cícero vale muito mais que qualquer botox.

4 comentários:

Unknown disse...

As mulheres principalmente é que morrem de medo de ficarem velhas.

jader resende disse...

Curiosidades, não acho que são as mulheres. elas tem muito mais fibra pra tudo, pra velhice também.
Os homens sim, morrem de medo antes de envelhecer.

Um grande abraço

Unknown disse...

Eu não tenho medo da velhice, sei que por mais que se prepare para receber a velhice, ela vem trazendo doenças, e outras coisas que atrapalha. É muito ruim. Mais fico feliz em poder envelhecer.
Beijos!

jader resende disse...

Janice, as mulheres não mentem ou bem menos que os homens.